18. Jesus no Antigo Testamento: Como Toda a Escritura Aponta para Cristo, a Palavra Revelada

1. Introdução: Os Pilares do Judaísmo e a Chegada de um Novo Reino

O Evangelho de João, no capítulo 5, nos transporta para um cenário de tensão e milagre. Jesus encontra um homem paralítico junto ao tanque de Betesda, um lugar onde a esperança se misturava à superstição. A crença popular dizia que um anjo agitava as águas e o primeiro a mergulhar seria curado. Aquele homem, há anos, esperava por um movimento externo, por um ritual, para alcançar sua cura. Jesus, contudo, o interpela com uma ordem que transcende a religiosidade vigente: "Toma o teu leito e anda". A cura é imediata, mas o detalhe crucial que acende o conflito é que aquele dia era um sábado.

Essa ação de Jesus não foi um mero descuido, mas um confronto direto com um dos pilares que sustentavam o judaísmo do primeiro século: a guarda do sábado. Para a liderança religiosa da época, realizar um "trabalho" como o de curar e carregar um leito neste dia era uma violação grave da lei. No entanto, a abordagem de Jesus revela que Ele não veio para se encaixar nas estruturas existentes, mas para inaugurar uma nova realidade.

O Evangelho de João demonstra como Jesus, sistematicamente, se apresenta como o cumprimento e a superação de todas as estruturas religiosas de seu tempo. Além do sábado, outros dois pilares eram fundamentais: o Templo e o Sacrifício. No capítulo anterior, em sua conversa com a mulher samaritana, Jesus já havia relativizado a importância do Templo de Jerusalém, afirmando que a verdadeira adoração não dependeria mais de um lugar geográfico, mas aconteceria "em espírito e em verdade" (João 4:23-24).

Da mesma forma, a centralidade do sacrifício de animais, prática essencial para o perdão dos pecados no templo, é redefinida desde o início do evangelho. João Batista, ao ver Jesus, anuncia:

"Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" (João 1:29).

Com essa declaração, a figura de Jesus é estabelecida como o sacrifício definitivo, tornando obsoletos os rituais que antes eram indispensáveis. Ao curar no sábado, confrontar a exclusividade do templo e se apresentar como o sacrifício final, Jesus não estava apenas quebrando regras; Ele estava mostrando que o Reino de Deus havia chegado, e que Ele mesmo era o centro desse novo Reino.


2. O Enigma de Felipe: Como Moisés e os Profetas Escreveram sobre Jesus?

Após Jesus desconstruir os pilares da religião judaica, o Evangelho de João nos convida a retroceder ao início do ministério de Cristo para compreender a base de Sua autoridade. Em uma passagem anterior, no primeiro capítulo, encontramos uma declaração surpreendente feita por um dos primeiros discípulos, Felipe, ao encontrar seu amigo Natanael:

"Achamos aquele de quem Moisés escreveu na Lei e a quem se referiram os profetas: Jesus, o Nazareno, filho de José." (João 1:45).

Essa afirmação merece uma análise cuidadosa. A Lei de Moisés, contida nos primeiros cinco livros da Bíblia, era o manual de conduta do povo de Israel. Ela estabelecia princípios para uma vida de santidade diante de Deus, além de diretrizes cívicas, administrativas e políticas para a nação. Como, então, um corpo de leis focado no comportamento do povo poderia conter um "personagem intrínseco" que era aguardado?

A convicção de Felipe levanta uma questão fundamental: os primeiros seguidores de Jesus não o viam apenas como um mestre ou profeta, mas como o cumprimento de algo profundamente enraizado em suas próprias Escrituras. Eles fizeram uma conexão imediata e poderosa entre a pessoa de Jesus e as palavras escritas por Moisés e pelos profetas séculos antes. Essa percepção não era superficial; ela sugere que, para eles, a Lei e os Profetas não eram apenas um código de regras ou uma coleção de histórias, mas uma narrativa unificada que apontava para uma promessa futura, agora encarnada em Jesus de Nazaré. Esse enigma é a chave para entender como os primeiros cristãos liam e interpretavam as Escrituras.


3. A Estrutura da Escritura Hebraica: Mais que um Livro de Histórias

Para entender a convicção de Felipe, é essencial compreender o que eram as "Escrituras" para um judeu do primeiro século. O que hoje chamamos de Antigo Testamento era, para eles, um registro abrangente da história da relação de Deus com o mundo. Era um livro que narrava as origens, a vida dos patriarcas como Abraão, a formação do povo de Israel e a promessa contínua de redenção. No entanto, uma leitura honesta dessa história revela um tema recorrente e doloroso: a decadência.

Desde a conquista da Terra Prometida, passando pelo caótico período dos Juízes — marcado por profunda degradação moral e espiritual —, a trajetória de Israel é de constante afastamento dos preceitos divinos. A monarquia, iniciada com Saul, não reverteu essa tendência. Mesmo Davi, um "homem segundo o coração de Deus", cometeu falhas graves. Seu filho, Salomão, embora celebrado por sua riqueza, representa o ápice dessa desobediência. Enquanto muitos leem o relato de sua prosperidade como uma bênção, ele foi, na verdade, uma terrível maldição. A Lei em Deuteronômio proibia expressamente que o rei acumulasse ouro e prata, cavalos (especialmente do Egito) e muitas mulheres. Salomão fez exatamente tudo isso, e suas ações levaram a nação à ruína.

A consequência foi inevitável: após sua morte, o reino se dividiu. Tanto o reino do Norte (Israel) quanto o do Sul (Judá) seguiram uma sucessão de reis infiéis, culminando na destruição e no exílio sob os impérios da Assíria e da Babilônia. A história pós-conquista de Israel como nação soberana durou pouco mais de meio milênio, um relato de fracasso em cumprir a Lei.

Nesse cenário, surgiram os profetas. Diferente da imagem popular de adivinhos, seu papel principal era confrontar reis, sacerdotes e o povo, mostrando o quão longe estavam da Lei de Deus. Eles eram a voz que anunciava o juízo divino como consequência da desobediência e, ao mesmo tempo, mantinham viva a esperança de uma intervenção redentora. Completando esse corpo literário, havia os Cânticos, como os Salmos, que expressavam a adoração e os lamentos do povo, e os livros de Sabedoria, como Provérbios e Jó, que ofereciam reflexões sobre a vida sob a soberania de Deus. Essa era a Escritura Hebraica: uma complexa tapeçaria de história, lei, profecia e poesia que contava a história de um povo falho e de um Deus fiel.


4. A Revelação Apostólica: Vendo Cristo em Toda a Escritura

A coleção de histórias, profecias e cânticos que compunha a Escritura Hebraica foi sendo guardada e compilada ao longo dos séculos. Historiadores e teólogos acreditam que esse cânon foi consolidado por volta de 450 a.C., possivelmente sob a supervisão do escriba Esdras. A existência de uma tradução grega completa, a Septuaginta, realizada por volta do século III a.C. em Alexandria, confirma que, na época de Jesus, esses livros já formavam um corpo de textos sagrados bem definido. Era a essa coleção que todos se referiam como "a Escritura".

É fundamental entender que, quando os autores do Novo Testamento citam "a Escritura", eles se referem exclusivamente ao que hoje conhecemos como Antigo Testamento. Eles mesmos estavam no processo de escrever os textos que, mais tarde, formariam o Novo Testamento. Com a vinda de Cristo, um fenômeno transformador ocorreu entre seus seguidores: eles começaram a reler essas Escrituras e a perceber que tudo o que haviam aprendido — as narrativas históricas, as leis, os salmos e as profecias — apontava diretamente para Jesus.

Essa nova chave de interpretação tornou-se a base da pregação apostólica. Eles não viam o Antigo Testamento como um manual para restaurar a glória de Davi ou o poder de Salomão. Para eles, a Escritura só fazia sentido quando lida através das lentes de Cristo. O apóstolo Paulo, escrevendo a seu discípulo Timóteo, deixa isso explícito:

"Quanto a você, permaneça naquilo que aprendeu e em que acredita firmemente, sabendo de quem você o aprendeu e que desde a infância você conhece as sagradas letras, que podem torná-lo sábio para a salvação pela fé em Jesus Cristo. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a educação na justiça." (2 Timóteo 3:14-16).

Paulo afirma que as "sagradas letras" — o Antigo Testamento que Timóteo conhecia desde criança — encontram seu propósito final ao conduzir à fé em Jesus. O apóstolo Pedro vai ainda mais fundo, revelando a força motriz por trás das profecias antigas:

"Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e investigaram. [...] investigando qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas que eram indicadas pelo Espírito de Cristo que neles estava, ao predizer os sofrimentos que Cristo teria de suportar e as glórias que viriam depois desses sofrimentos. A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vocês, eles ministravam as coisas que agora foram anunciadas." (1 Pedro 1:10-12).

Pedro ensina algo revolucionário: era o próprio "Espírito de Cristo" que inspirava os profetas, e a mensagem deles não se esgotava em seu contexto histórico, mas se destinava à futura igreja. Essa convicção era proclamada abertamente, como no discurso de Pedro em Jerusalém:

"E todos os profetas, a começar por Samuel, assim como todos os que falaram depois dele, também anunciaram estes dias." (Atos 3:24).

Para os apóstolos, ficou claro: o Antigo Testamento não era apenas sobre o passado de Israel; era, acima de tudo, a promessa e a preparação para a chegada do Messias, Jesus Cristo.


5. O Testemunho do Próprio Jesus: A Chave Hermenêutica Definitiva

Se a revelação apostólica foi a porta que se abriu para uma nova compreensão das Escrituras, a chave que a girou foi o ensinamento do próprio Jesus. Mais do que qualquer outro, foi Ele quem ensinou que toda a Escritura Hebraica convergia para Sua pessoa e missão. Ele não apenas reivindicou autoridade sobre a Lei, mas se apresentou como seu cumprimento e propósito final.

Em um de seus debates com os líderes religiosos, Jesus resumiu a totalidade da revelação bíblica de forma magistral. Ao ser questionado sobre o maior mandamento, Ele declarou:

"Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. [...] E o segundo, semelhante a este, é: Ame o seu próximo como a si mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas." (Mateus 22:37-40).

Com essa afirmação, Jesus demonstrou que a essência de toda a Escritura não era um complexo sistema de rituais, mas uma relação de amor com Deus e com o próximo — princípios que Ele encarnava perfeitamente.

O testemunho mais explícito, no entanto, ocorre após sua ressurreição. Ao encontrar dois discípulos desanimados na estrada para Emaús, que não haviam compreendido os acontecimentos da Páscoa, Jesus lhes oferece uma aula bíblica definitiva:

"E, começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras." (Lucas 24:27).

Aqui, Jesus não deixa dúvidas. Ele é o tema central da Bíblia, de Gênesis a Malaquias. Ele reafirma essa verdade ao confrontar diretamente seus opositores, que usavam os escritos de Moisés para rejeitá-lo:

"Porque, se vocês de fato cressem em Moisés, também creriam em mim; pois ele escreveu a meu respeito." (João 5:46).

Essa perspectiva é a culminação do que João apresenta no prólogo de seu evangelho: Jesus é o Logos, a Palavra de Deus que "se fez carne e habitou entre nós" (João 1:14). Se Ele é a Palavra viva, então toda palavra profetizada, toda lei ensinada, todo princípio de sabedoria e toda verdade revelada no Antigo Testamento encontram Nele sua expressão máxima e visível. Jesus não apenas interpreta a Escritura; Ele é a Escritura revelada.


6. O Perigo da Interpretação Desconectada: A Bíblia Não é um Livro de Fórmulas Mágicas

Compreender que Jesus é o centro de toda a Escritura não é apenas um exercício teológico; é uma salvaguarda contra perigosas distorções da fé. Quando o Antigo Testamento é lido sem essa lente, ele facilmente se transforma em um manual de "receitas espirituais" ou, pior, em um livro de encantamentos. Essa abordagem trata os textos sagrados como uma coleção de fórmulas mágicas, onde a repetição de um ato bíblico garante um resultado desejado, semelhante a um "abracadabra" ou um feitiço de ficção.

Essa mentalidade leva a práticas estranhas e infundadas, como pessoas que marcham sete vezes ao redor de um prédio esperando que ele "caia" ou que empunham espadas simbólicas para "conquistar" bênçãos. Tal visão ignora completamente que nem Jesus, nem os apóstolos, nem os próprios personagens do Antigo Testamento jamais ensinaram essa forma de apropriação mágica da história. O valor daquelas narrativas não está na imitação literal de seus atos, mas em como elas apontam para Cristo.

O verdadeiro Evangelho permeia toda a Bíblia. Ele não começa em Mateus, mas já está presente em Gênesis. A primeira promessa da boa nova, o chamado "protoevangelho", surge logo após a Queda:

"Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar." (Gênesis 3:15).

Essa é a promessa de um descendente que esmagaria a serpente, um anúncio velado de Cristo. Toda a história subsequente do Antigo Testamento é a crônica da espera e da preparação para a chegada Dele. Ignorar isso leva a teologias focadas no empoderamento humano, na vitória sobre inimigos terrenos e em um nacionalismo equivocado, que tenta aplicar as promessas feitas à nação teocrática de Israel a países modernos. A fé cristã não defende uma nação ou uma ideologia política, mas a justiça do Reino de Deus, que transcende fronteiras e etnias.

O erro fundamental dessas interpretações é buscar soluções em sistemas externos, sejam eles políticos ou rituais. O Evangelho, no entanto, diagnostica o problema na raiz: a injustiça reside no coração humano, uma condição chamada pecado. Portanto, a única solução verdadeira não é um novo sistema, mas a transformação do indivíduo através do arrependimento e da fé em Jesus, o único que pode verdadeiramente redimir e restaurar a humanidade.


7. Convicção e Conhecimento: A Necessidade do Estudo Profundo da Palavra

Se a nossa vida, nossas decisões, a forma como tratamos nossa família e como encaramos o mundo dependem da nossa fé em Cristo, por que dedicamos tão pouco tempo para entender profundamente a Palavra que a sustenta? Essa é uma questão incômoda, mas necessária. Em uma era de informação instantânea, muitos cristãos se contentam com um conhecimento superficial, montado a partir de "cortes" de pregações na internet, sem perceber o perigo que isso representa.

Um vídeo de trinta segundos, desprovido de seu contexto, não pode substituir um estudo sério e consistente. Essa dieta de conteúdo fragmentado gera confusão teológica, fazendo com que pessoas consumam ensinamentos de pregadores com linhas de pensamento completamente contraditórias, sem sequer notar a incompatibilidade. O resultado é uma fé frágil, suscetível a qualquer nova tendência ou doutrina extravagante.

Para ilustrar a importância da profundidade, pensemos em um profissional. Um especialista em tecnologia da informação conhece os detalhes do hardware e do software; um vendedor de motocicletas de alta performance sabe tudo sobre o motor, os freios e a segurança do seu produto. Eles investem tempo para dominar suas áreas porque seu sustento depende disso. Se damos tanto valor ao conhecimento em nossas profissões, quanto mais deveríamos valorizar o conhecimento da Palavra da qual depende nossa vida eterna?

A responsabilidade pelo crescimento espiritual é pessoal. Depender apenas da mensagem ouvida no domingo é insuficiente para construir uma base sólida. É preciso um compromisso ativo com o estudo das Escrituras, buscando compreender a grande narrativa da redenção que aponta para Cristo. Apenas com esse conhecimento profundo podemos desenvolver convicções firmes, discernir a verdade do erro e viver de uma maneira que honre verdadeiramente o Evangelho que professamos.


8. Símbolos que Apontam para a Realidade: O Propósito Final do Antigo Testamento

Para consolidar a maneira correta de ler as Escrituras, podemos usar um exemplo do próprio ministério de Jesus: as bodas de Caná da Galileia. Naquela festa, Jesus transformou água em vinho. Embora o milagre tenha sido real e espetacular, seu propósito não era simplesmente resolver um problema de logística ou iniciar uma carreira na vinicultura. Aquele sinal, como todos os outros no Evangelho de João, era um símbolo que apontava para uma realidade muito mais profunda.

Jesus usou aquela cena para falar sobre si mesmo. Ele se revelou como a fonte da verdadeira purificação (substituindo a água das talhas cerimoniais), cujo sangue seria o vinho da Nova Aliança. Ele se apresentou como o verdadeiro noivo, a Igreja como sua noiva, e o Reino de Deus como a verdadeira festa que nunca terá fim. O milagre não era um fim em si mesmo, mas uma seta apontando para a pessoa e a obra de Cristo.

Essa mesma lógica deve ser aplicada a toda a leitura do Antigo Testamento. Os fatos históricos e os milagres narrados — a travessia do Mar Vermelho, a conquista de Jericó, o reinado de Davi — de fato aconteceram. Contudo, seu valor primário e duradouro não reside neles mesmos, mas em sua capacidade de apontar para a frente. Eles são sombras, tipos e símbolos que prefiguram uma realidade infinitamente maior.

Portanto, ao lermos as páginas do Antigo Testamento, não estamos buscando apenas lições de moral ou exemplos de heróis. Estamos, acima de tudo, buscando os contornos do verdadeiro Rei, Jesus; do verdadeiro Reino, o de Deus; da verdadeira nação, a Igreja composta por todos os povos; do verdadeiro povo, redimido pelo Cordeiro; e da verdadeira festa, que celebraremos na eternidade. Essa é a grande e unificada história da Bíblia, e seu protagonista, do começo ao fim, é Jesus Cristo.


ETAPA 4: Síntese em Tabela

Subtópico Pontos Principais Conceitos-Chave e Definições Dados e Estatísticas Relevantes Citações e Referências Importantes
1. Introdução: Pilares do Judaísmo * Jesus desafiou os três pilares do judaísmo: Sábado (cura do paralítico), Templo (adoração em espírito e verdade) e Sacrifício (sendo o Cordeiro de Deus). * Suas ações não eram quebra de regras, mas a inauguração de um novo Reino centrado Nele. Pilares do Judaísmo: As três estruturas fundamentais da religião judaica no primeiro século: a guarda do Sábado, a centralidade do Templo de Jerusalém e o sistema de sacrifícios para perdão de pecados. * "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" (João 1:29) * Adoração "em espírito e em verdade" (Ref. João 4:23-24)
2. O Enigma de Felipe * A declaração de Felipe de que Moisés e os Profetas escreveram sobre Jesus (João 1:45) levanta uma questão central. * Os primeiros discípulos viram em Jesus o cumprimento direto das Escrituras Hebraicas. * "Achamos aquele de quem Moisés escreveu na Lei e a quem se referiram os profetas: Jesus, o Nazareno, filho de José." (João 1:45)
3. A Estrutura da Escritura Hebraica * A Escritura Hebraica (Antigo Testamento) é uma narrativa da história de Deus com seu povo. Essa história é marcada por uma decadência moral e espiritual, mesmo sob reis famosos como Davi e Salomão. Os profetas não eram adivinhos, mas confrontavam o povo com a Lei de Deus. Escritura Hebraica: O conjunto de livros sagrados do judaísmo, hoje chamado de Antigo Testamento pelos cristãos. Inclui a Lei (Torá), os Profetas (Nevi'im) e os Escritos (Ketuvim). * 722 a.C.: Fim do Reino do Norte (Israel) pela Assíria. * 586 a.C.: Fim do Reino do Sul (Judá) pela Babilônia. * Lei de Deuteronômio: Proibições ao rei sobre acumular ouro, cavalos e mulheres, desobedecidas por Salomão.
4. A Revelação Apostólica * Para os apóstolos, a "Escritura" era o Antigo Testamento. Eles passaram a ler toda a Escritura como uma narrativa que apontava para Jesus. O próprio Espírito de Cristo estava nos profetas, e a mensagem deles era destinada à igreja futura. Septuaginta: A tradução da Escritura Hebraica para o grego, realizada por cerca de 72 tradutores em Alexandria por volta do século III a.C. * c. 450 a.C.: Provável data de fechamento do cânon do Antigo Testamento por Esdras. * séc. III a.C.: Período da tradução da Septuaginta. * "as sagradas letras, que podem torná-lo sábio para a salvação pela fé em Jesus Cristo." (2 Timóteo 3:15) "indicadas pelo Espírito de Cristo que neles estava..." (1 Pedro 1:11) "todos os profetas... também anunciaram estes dias." (Atos 3:24)
5. O Testemunho do Próprio Jesus * Jesus é a chave hermenêutica definitiva para as Escrituras. Ele ensinou que Moisés escreveu a seu respeito e que toda a Lei e os Profetas apontavam para Ele. Como o "Logos" (Palavra) encarnado, Ele é a revelação viva de tudo o que a Escritura diz. Logos (Palavra): Termo grego usado em João 1 para descrever Jesus como a expressão divina, a Palavra de Deus que se tornou um ser humano. * "Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas." (Mateus 22:40) "explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras." (Lucas 24:27) "pois ele [Moisés] escreveu a meu respeito." (João 5:46)
6. O Perigo da Interpretação Desconectada * Ler o Antigo Testamento sem Cristo o transforma em um livro de "fórmulas mágicas". O Evangelho está em toda a Bíblia, começando com o "protoevangelho" em Gênesis 3:15. A solução bíblica para os problemas do mundo não é um sistema político, mas a transformação do coração humano pelo Evangelho. Protoevangelho: "Primeiro Evangelho". Refere-se a Gênesis 3:15 como a primeira promessa da vinda de um Salvador que derrotaria o mal. * "Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar." (Gênesis 3:15)
7. Convicção e Conhecimento * O estudo profundo da Palavra é uma necessidade, não um luxo, para o cristão. O conhecimento superficial (ex: "cortes de internet") leva à confusão teológica e a uma fé frágil. A responsabilidade pelo aprendizado é pessoal e exige dedicação.
8. Símbolos que Apontam para a Realidade * Eventos e milagres no Antigo Testamento, como o milagre em Caná no Novo, são símbolos que apontam para uma realidade maior em Cristo. * O Antigo Testamento revela o verdadeiro Rei (Jesus), o verdadeiro Reino (de Deus) e o verdadeiro Povo (a Igreja).

Aplicação Prática

Compreender que toda a Escritura aponta para Jesus é uma revelação que deve transformar radicalmente não apenas nossa maneira de ler a Bíblia, but também nossa forma de viver. A fé deixa de ser um conjunto de regras ou rituais e se torna um relacionamento dinâmico com a pessoa de Cristo, revelada em cada página. A seguir, apresentamos passos concretos para internalizar e viver essa verdade.

Passos para um Estudo Bíblico Centrado em Cristo

  1. Abandone o "Consumo Rápido" de Conteúdo: O primeiro passo é tomar a decisão consciente de ir além do conhecimento superficial adquirido por meio de vídeos curtos e frases de efeito. Comprometa-se a separar um tempo regular e focado para o estudo metódico da Palavra, tratando-a com a mesma seriedade que um profissional dedica à sua área de especialização.

  2. Mude a Pergunta Fundamental: Ao abrir as Escrituras, especialmente o Antigo Testamento, treine-se para mudar a pergunta inicial. Em vez de começar com "O que essa história significa para mim?" ou "Como posso aplicar isso na minha vida?", comece perguntando:

    • "O que esta passagem revela sobre o caráter de Deus?"
    • "Como esta história, lei ou profecia aponta para a necessidade de um Salvador?"
    • "De que maneira Jesus cumpre ou completa o que está sendo dito aqui?"
  3. Leia a Bíblia como uma Narrativa Única: Enxergue os livros da Bíblia não como uma biblioteca de textos isolados, mas como capítulos de uma única e grande história de redenção. Ao ler sobre a falha de Adão, a aliança com Abraão, o êxodo com Moisés ou o reinado imperfeito de Davi, veja como cada evento constrói a tensão e a expectativa para a chegada do protagonista definitivo: Jesus.

  4. Procure Ferramentas e Comunidade: Ninguém precisa fazer essa jornada sozinho. Busque recursos confiáveis — como comentários bíblicos, cursos e livros — que ensinem uma leitura cristocêntrica das Escrituras. Participe de grupos de estudo em sua igreja que valorizem a profundidade teológica e a discussão saudável, aprendendo a enxergar Cristo em conjunto.

Exercícios de Reflexão e Ação

  • Exercício de Releitura: Escolha uma história conhecida do Antigo Testamento (ex: a vida de José, a jornada de Rute ou a profecia de Isaías 53). Leia-a duas vezes. Na primeira, leia como sempre fez. Na segunda, leia procurando ativamente por temas, símbolos e promessas que apontem para a vida, o sacrifício e o Reino de Jesus. Anote as diferenças em sua percepção.

  • Autoavaliação de Consumo Espiritual: Durante uma semana, analise os conteúdos cristãos que você consome (músicas, pregações, podcasts, posts). Pergunte-se: o foco principal está na suficiência de Cristo e na glória de Deus, ou está no meu potencial, na minha vitória e no meu empoderamento? Isso o ajudará a discernir ensinamentos que se desviam do Evangelho.

  • Perguntas para Discussão em Grupo: Leve estas questões para seu pequeno grupo ou família:

    • "Qual personagem ou história do Antigo Testamento já usamos para justificar uma atitude ou desejo pessoal, sem pensar em como ela aponta para Jesus?"
    • "Como a nossa compreensão de Deus muda quando vemos que o juízo dos profetas e a graça de Cristo vêm da mesma fonte e do mesmo plano?"

Aplicação em Diferentes Contextos

  • Vida Pessoal: Suas decisões passam a ser menos sobre "reivindicar a promessa de Josué" e mais sobre "seguir o exemplo de humildade e serviço de Jesus". A luta contra o pecado é vista não como um esforço para cumprir uma lei, mas como uma resposta de gratidão ao sacrifício de Cristo.

  • Na Família: Ao contar histórias bíblicas para os filhos, a ênfase muda. "Davi e Golias" deixa de ser apenas uma lição sobre coragem e se torna uma história que mostra que, mesmo os maiores heróis de Israel eram falhos e precisavam de um Salvador perfeito, o verdadeiro Rei que derrotaria o gigante do pecado e da morte.

  • Na Comunidade da Igreja: Uma comunidade que lê a Bíblia de forma cristocêntrica torna-se mais imune a "ventos de doutrina". Ela consegue discernir ensinamentos que usam textos do Antigo Testamento para promover prosperidade material, nacionalismo ou vingança, e se firma na mensagem central da cruz.


Conclusão Reflexiva

A jornada através das Escrituras, quando feita com os olhos abertos para sua mensagem central, nos leva a uma conclusão inescapável: a Bíblia não é uma coleção de histórias desconexas, mas uma única e épica narrativa que culmina em uma pessoa. De Gênesis a Malaquias, cada lei, profecia e salmo ecoa uma promessa e anseia por um cumprimento. Esse cumprimento tem um nome: Jesus Cristo. Ele é o verdadeiro Templo, o Sacrifício definitivo e o Senhor do Sábado. Ele é a Palavra de Deus revelada, a chave que destranca o sentido de cada página sagrada e transforma um livro antigo em uma fonte de vida vibrante e relevante hoje.

Portanto, que nossa abordagem às Escrituras seja transformada. Que a poeira da leitura superficial seja soprada pela busca apaixonada por Aquele que é o seu tema principal. Ao abrirmos a Bíblia, não busquemos mais apenas fórmulas para o sucesso, heróis para imitar ou versículos para usar como amuleto. Em vez disso, busquemos encontrar o rosto de Cristo, ouvir a Sua voz e nos maravilharmos com a glória do plano redentor de Deus. Pois entender que tudo aponta para Ele não é o fim do estudo, mas o verdadeiro começo de um relacionamento com a Palavra que se fez carne para habitar entre nós.



A Casa da Rocha. #18 - Jesus é a palavra revelada - Zé Bruno - Quem é Jesus?. Youtube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SbMGiPiWC5Q. Acesso em: 02/09/2025.

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há 2 dias
Matéria: Religião
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