1. Introdução: Uma Nova Aliança para um Novo Viver

Por muito tempo, a caminhada com Deus foi entendida, e muitas vezes ensinada, como um esforço diligente para seguir um código de conduta: os Dez Mandamentos. Muitos de nós, seja em tradições católicas ou adventistas, aprendemos que a obediência a essa Lei era o caminho para a santidade. No entanto, as Escrituras Sagradas, especialmente nas cartas do apóstolo Paulo, nos convidam a uma compreensão mais profunda e libertadora.

A Bíblia revela que a vinda de Cristo inaugurou uma Nova Aliança, que não se baseia em regras externas gravadas em pedra, mas no poder interno e transformador do Espírito Santo habitando em nós.

Esta não é uma mudança pequena; é uma substituição completa de sistemas. Passamos de uma aliança onde a "letra" (a Lei) expunha nosso pecado e nos condenava — pois éramos incapazes de cumpri-la perfeitamente — para uma aliança onde o "Espírito" nos vivifica, nos capacita e nos guia em verdadeira santidade.

Neste artigo, convidamos você a examinar o que a Bíblia realmente diz sobre esse tema. Veremos como o próprio apóstolo Paulo argumenta que fomos libertos da Lei dos Dez Mandamentos, não para vivermos no pecado, mas para servirmos a Deus de uma maneira nova e superior: pelo poder do Espírito Santo.

2. A Lei da Qual Fomos Libertos: O Testemunho de Romanos 7

Uma das passagens mais claras sobre nossa nova posição em Cristo encontra-se na carta aos Romanos. O apóstolo Paulo, falando aos que "conhecem a lei" (Romanos 7:1), explica que nossa relação com a Lei mudou da mesma forma que um vínculo matrimonial termina com a morte.

Ele argumenta que, através da morte de Cristo, nós também "morremos para a Lei", libertando-nos de sua antiga autoridade sobre nós. O propósito dessa liberdade não é a anarquia, mas um novo relacionamento.

"Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra." (Romanos 7:6, Almeida Revista e Atualizada)

Paulo afirma que fomos libertos da "letra" (a Lei) para que pudéssemos servir no "espírito". Mas de qual Lei ele está falando? Seria apenas das leis cerimoniais, como alguns sugerem?

O próprio apóstolo elimina qualquer dúvida no versículo seguinte. Ao antecipar a pergunta "É a lei pecado?", ele usa um exemplo específico para definir exatamente a qual Lei ele se refere:

"Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás." (Romanos 7:7, ARA)

A ordem "Não cobiçarás" é inconfundivelmente o décimo mandamento, parte central da Lei moral gravada em pedra no Sinai.

Portanto, o argumento de Paulo é inequívoco: a Lei da qual fomos libertos, aquela que nos mantinha "sujeitos", inclui os próprios Dez Mandamentos. Fomos libertos dessa "letra" para que agora possamos viver e servir a Deus não por um código externo, mas pela direção interna e capacitadora do Espírito Santo.

3. O "Ministério da Morte": A Lei Gravada em Pedras (2 Coríntios 3)

A distinção entre a Antiga e a Nova Aliança torna-se ainda mais nítida na segunda carta de Paulo aos Coríntios. O apóstolo fala abertamente sobre a superioridade da Nova Aliança do Espírito sobre a Antiga Aliança da Lei.

Ele começa estabelecendo o conhecido princípio:

"Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica." (2 Coríntios 3:6, Nova Versão Internacional)

Assim como em Romanos, Paulo contrasta a "letra" que mata com o "Espírito" que dá vida. E, novamente, ele não deixa dúvidas sobre a que "letra" ele está se referindo. Ele a descreve com uma precisão impossível de ignorar:

"O ministério que trouxe a morte foi gravado com letras em pedras..." (2 Coríntios 3:7a, NVI)

Qual parte da Lei Mosaica foi "gravada com letras em pedras"? Apenas uma: os Dez Mandamentos, entregues a Moisés no Monte Sinai.

Paulo chama esse sistema — a Lei dos Dez Mandamentos — de "ministério que trouxe a morte". Por quê? Porque a Lei, sendo santa, justa e boa, apenas expunha o pecado e trazia a condenação, já que ninguém podia cumpri-la perfeitamente. Ela "matava" ao mostrar nossa culpa.

O apóstolo então conclui que esse sistema glorioso (mas mortal) foi intencionalmente substituído por algo infinitamente mais glorioso: o ministério do Espírito Santo.

"Se o antigo sistema [Lei dos 10 mandamentos], que traz condenação, era glorioso, muito mais glorioso é o novo sistema [Nova Aliança do Espírito], que nos torna justos diante de Deus! ... Portanto, se o antigo sistema, que foi SUBSTITUÍDO, era cheio de glória, muito mais glorioso é o novo, que permanece para sempre!" (2 Coríntios 3:9, 11, Nova Versão Transformadora)

A conclusão lógica de Paulo é que o Espírito Santo substituiu a Lei gravada em pedras. Não viemos para "remendar" a Antiga Aliança, mas para viver sob uma Nova Aliança, que não depende da nossa obediência a um código externo, mas da obra interna do Espírito que nos justifica e santifica.

4. O Dilema Resolvido: Ou Seguimos a Lei, ou Seguimos o Espírito (Gálatas 5)

Na carta aos Gálatas, Paulo confronta diretamente aqueles que tentavam misturar a fé em Cristo com a obediência à Lei mosaica. Ele apresenta a vida cristã não como uma coexistência de dois sistemas (Lei e Graça), mas como uma escolha clara entre eles.

A Lei não é a solução de Deus para o pecado; o Espírito Santo é. Paulo declara a chave para a verdadeira santidade:

"Digo, porém: Andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne." (Gálatas 5:16, Almeida Revista e Atualizada)

A vitória sobre os "desejos da carne" (as "obras da carne" listadas nos versículos 19-21) não vem pelo esforço de guardar a Lei; vem pelo ato de "andar no Espírito".

Em seguida, Paulo torna a oposição entre os dois sistemas explícita, mostrando que eles são mutuamente exclusivos:

"Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei." (Gálatas 5:18, ARA)

Esta declaração é a sinceridade do Evangelho: ou você é guiado pelo Espírito, ou você está debaixo da Lei. Não é possível estar nos dois lugares ao mesmo tempo.

Querer seguir a Lei dos Dez Mandamentos como meio de santificação é, na prática, declarar que o Espírito Santo não é suficiente para nos guiar. Se Deus substituiu o ministério da "letra" (a Lei) pelo ministério do "Espírito", e nós insistimos que ainda precisamos da Lei para sermos santos, estamos sutilmente sugerindo que Deus errou na troca, e que a Lei escrita em pedras é um guia melhor ou mais seguro que o próprio Espírito Santo que habita em nós.

Paulo nos força a escolher: ou confiamos na Lei, ou confiamos no Espírito.

5. A Data de Validade da Lei: O "Até Que" de Mateus 5 e Gálatas 3

Muitos utilizam as palavras de Jesus em Mateus 5 para argumentar que a Lei é eterna. No entanto, uma análise cuidadosa do texto revela exatamente o oposto. Jesus estabelece, de fato, uma "data de validade" para a Lei.

"Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, ATÉ QUE tudo se cumpra." (Mateus 5:17-18, ARA)

A palavra-chave é "até que" (em grego, heōs an). Esta expressão define uma condição, um prazo. É como dizer: "Você não sairá daqui até que termine sua tarefa". A Lei permaneceria intocável até que sua finalidade fosse atingida. E qual era essa finalidade? Que "tudo se cumpra".

Jesus não veio "revogar" a Lei (como um rebelde que a ignora), mas "cumprir" (como alguém que satisfaz todas as suas exigências). Na cruz, com seu último suspiro, Jesus declarou: "Está consumado!" (João 19:30). Ele cumpriu perfeitamente toda a Lei em nosso lugar, satisfazendo sua justiça e pagando sua penalidade. Com isso, a condição do "até que" foi satisfeita. A Lei foi cumprida.

O apóstolo Paulo é ainda mais direto em Gálatas sobre essa temporalidade. Ele explica por que a Lei foi dada e quanto tempo ela deveria durar:

"Qual, pois, a razão de ser da lei? Foi adicionada por causa das transgressões, ATÉ QUE viesse o descendente [Cristo] a quem se fizera a promessa... De maneira que a lei nos serviu de aio [tutor] para nos conduzir a Cristo... Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio." (Gálatas 3:19, 24-25, ARA)

Paulo ensina que a Lei foi um "tutor" temporário, adicionado por um período específico: "até que viesse o descendente", que é Jesus Cristo. Agora que Cristo veio, "já não estamos debaixo" desse tutor. A função da Lei expirou porque seu propósito foi plenamente realizado em Cristo.

6. A Obra Consumada na Cruz: Cristo Aboliu a Lei (Efésios 2)

A morte de Jesus na cruz não foi apenas um pagamento pelos nossos pecados; foi também o ato que encerrou judicialmente a vigência da Antiga Aliança. Paulo, escrevendo aos Efésios, usa a linguagem mais forte possível para descrever o que Cristo fez com a Lei.

Ele explica que, na cruz, Jesus removeu a barreira de separação que a Lei representava, unindo judeus e gentios em um novo corpo:

"...abolindo na sua carne a lei dos mandamentos na forma de ordenanças..." (Efésios 2:15a, Nova Almeida Atualizada)

A palavra "aboliu" (do grego katargeó) significa "tornar inoperante", "cancelar", "anular". Cristo não apenas cumpriu a Lei, Ele a tornou inativa, cancelando seu domínio sobre nós.

Quando Jesus disse "Está consumado!", Ele estava declarando que todas as exigências da Lei haviam sido totalmente satisfeitas. Por ter cumprido tudo perfeitamente, Ele ganhou o direito de aboli-la como sistema de justiça e santidade.

Paulo reitera essa verdade em Romanos 6. Primeiro, ele estabelece nossa nova realidade:

"Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça." (Romanos 6:14, ARA)

E então, ele faz a pergunta óbvia: "Se fomos libertos da Lei, podemos pecar?"

"E daí? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, e sim da graça? De modo nenhum!" (Romanos 6:15, ARA)

A nossa libertação da Lei (incluindo os Dez Mandamentos, como vimos em Romanos 7) não é uma licença para pecar. É uma mudança de senhorio. Não estamos mais sob um sistema que nos condena ("a letra que mata"), mas sob o poder de um novo sistema ("a graça") que nos transforma através do Espírito Santo.

7. Conclusão: Suficientes no Espírito, Instrúidos pela Lei, Vivendo a Lei de Cristo

As Escrituras são claras: a Lei de Moisés, incluindo os Dez Mandamentos gravados em pedras, cumpriu seu propósito como uma aliança condenatória. Ela foi nosso tutor "até que Cristo viesse" (Gálatas 3:24) e serviu como o "ministério da morte" que revelou nosso pecado (2 Coríntios 3:7).

Em Cristo, fomos libertos dessa Lei como um código que nos governa e condena (Romanos 7:6). A Antiga Aliança foi substituída por uma Nova Aliança, infinitamente superior: a aliança do Espírito (2 Coríntios 3:6-11).

Essa libertação, no entanto, não nos torna "sem lei". Pelo contrário, ela nos coloca sob uma autoridade mais elevada e perfeita: a "Lei de Cristo" (Gálatas 6:2; 1 Coríntios 9:21) — o princípio supremo do amor, gravado em nossos corações.

Mas, isso torna a Lei Mosaica inútil? De modo nenhum. O apóstolo Paulo afirma: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça" (2 Timóteo 3:16, ARA). A Lei não é mais o código que nos julga, mas é a Escritura inspirada que nos ensina.

Como Escritura, a Lei continua sendo indispensável. Ela revela o caráter santo e imutável de Deus, nos mostra a profundidade do pecado ("Não cobiçarás" - Romanos 7:7) e demonstra os padrões de justiça que agradam ao nosso Senhor, apontando nossa constante necessidade de Cristo.

A diferença crucial está no "como":

  • Na Antiga Aliança, a Lei ordenava externamente, mas não dava poder para obedecer.
  • Na Nova Aliança, o Espírito Santo nos capacita internamente a cumprir a essência justa da Lei (Romanos 8:4), não por medo da "letra", mas por amor.

Portanto, a santidade verdadeira é o resultado de uma vida guiada pelo Espírito Santo, que usa a sabedoria da Escritura (incluindo a Lei) para nos moldar à imagem de Cristo. Tentar voltar à Lei como método de justificação ou código de condenação é duvidar da obra de Cristo. Mas usá-la como mestra para entender a santidade que o Espírito agora produz em nós é sabedoria.

O Espírito Santo é suficiente. Ele nos liberta da condenação da Lei para nos capacitar a viver a Lei de Cristo.

Avatar de diego
há 5 horas
Matéria: Bíblia
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