Introdução: O "Porquê" Antes do "Como"

Muitos cristãos sinceros buscam com fervor respostas para duas perguntas centrais em sua jornada de fé: "Qual é o meu chamado específico?" e "Como posso cumpri-lo?". Essas são buscas nobres e essenciais. No entanto, antes mesmo de mergulharmos no "qual" ou no "como", existe uma fundação que precisa ser firmemente estabelecida: o "porquê".

Por que é tão importante saber qual é o seu chamado específico? Por que devemos nos esforçar para viver dentro dele?

Se não compreendermos as razões fundamentais pelas quais Deus nos designou um propósito, corremos o risco de sermos como um barco à deriva, empurrados pelas correntes da vida — seja a pressão financeira, as expectativas sociais ou as nossas próprias ambições desalinhadas.

Este estudo não se trata de maximizar o potencial humano, mas de entender o desígnio divino. Antes de buscarmos o mapa (o como) ou o destino (o qual), precisamos entender por que a jornada em si é vital. A resposta a essa pergunta é o que nos manterá focados, nos permitirá usar nossos dons efetivamente e nos trará a verdadeira plenitude que só se encontra em fazer aquilo para o qual fomos criados por Deus.


Por Que Conhecer o Chamado (Parte 1): Mantendo o Foco Contra as Correntes

A primeira razão vital para conhecer seu chamado específico é manter o foco correto. Sem ele, somos inevitavelmente empurrados em direções contraproducentes pelas fortes correntes da vida.

Considere a história de um homem chamado Matt. Ele se formou em contabilidade e começou a trabalhar para uma gigante indústria de petróleo, conhecida por pagar os salários mais altos do setor. A filosofia da empresa era clara: pagavam mais, mas exigiam um trabalho exaustivo, frequentemente de 60 a 80 horas semanais.

Certa noite, exausto no escritório, tomando café para se manter acordado e terminar um trabalho, Matt olhou para outro jovem contador e perguntou: "Por que estamos fazendo isso?". O colega respondeu secamente: "Dinheiro".

Naquele momento, Matt percebeu que havia se tornado um escravo. A busca por renda e o pagamento de contas haviam se tornado o motor de sua vida. Essa epifania o levou a buscar mais a Deus e a questionar: "O que eu sou realmente chamado a fazer?". Hoje, ele é pastor há cerca de 30 anos.

Muitos de nós vivemos como barcos no oceano, à mercê das correntes. Se você está em um barco e desliga o motor, você não fica parado; as correntes o puxam, as ondas o levam. Assim é a vida quando operamos sem um chamado claro: as correntes do "ganhar dinheiro", "pagar contas" e "existir" ditam nosso destino.

Mas quando descobrimos nosso chamado, é como ligar o motor. A corrente ainda existe, mas ela não nos impede mais de chegar ao nosso destino. Você não estará verdadeiramente vivendo até fazer o que Deus o criou para fazer.

É sobre isso que o salmista fala:

O Senhor direciona os passos dos piedosos; ele se deleita em cada detalhe das suas vidas. (Salmos 37:23, NVT)

Note a beleza deste versículo: Deus direciona, Ele não força. O inimigo quer nos empurrar e forçar, mas Deus nos guia. Depende de nós ouvirmos. A direção do Senhor em nossa vida funciona como um GPS espiritual.

Deus tem um GPS interno em nós, e esse GPS é o chamado que Ele designou para nós. A Bíblia diz que fomos "criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que andivéssemos nelas" (Efésios 2:10). Esse "de antemão" é o nosso GPS. Se formos intencionais em segui-lo, cumpriremos nosso chamado divino.

E a promessa final do Salmo 37:23 é que Ele "se deleita em cada detalhe". Se Deus se deleita em cada detalhe, certamente Ele está profundamente interessado em nossa vocação.


Por Que Conhecer o Chamado (Parte 2): Usando Seus Dons Efetivamente

A segunda razão pela qual é crucial conhecer seu chamado é para que você possa usar os dons que lhe foram confiados efetivamente.

Deus equipou cada um de nós com dons específicos. O propósito desses dons não é aleatório; eles nos foram dados para nos ajudar a maximizar aquilo que fomos chamados a fazer. A Bíblia afirma que "os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis" (Romanos 11:29). Os dons nos capacitam para o chamado.

O apóstolo Paulo explica essa conexão direta:

Deus nos deu diferentes dons para fazermos certas coisas bem. (Romanos 12:6, NVT)

Deus nos deu dons para fazermos certas coisas. O perigo é que nossos dons podem operar, ainda que de forma limitada, em áreas para as quais não fomos chamados.

Imagine que seus dons são representados por dois veículos: um trator e um carro de corrida. O carro de corrida foi feito para correr em uma pista; o trator foi feito para arar um campo. Agora, o motorista do trator pode dizer: "O que é popular hoje são corridas. Vou levar meu trator para a pista." Ele pode fazer isso? Sim. Mas ele será eficiente? Não, todos o vencerão.

Da mesma forma, o piloto do carro de corrida pode tentar arar o campo. Talvez ele até consiga arrastar alguma coisa, mas ele não está na área para a qual foi criado para maximizar seu potencial.

Muitos de nós usamos nossos dons na arena errada. Um indivíduo pode ter um dom de ensino técnico e meticuloso, o que o torna um mecânico de automóveis brilhante. Esse mesmo dom pode torná-lo um professor da Bíblia razoável. Mas se Deus o chamou para ser mecânico, é ali que seu dom florescerá e edificará o Reino de forma máxima.

Considere a história real de um homem assim. Ele era um mecânico de sucesso, cujo negócio explodiu. Por ter uma mente técnica, ele também era um bom professor da Bíblia. Cansado de "apenas consertar carros", ele disse ao seu pastor que queria servir a Deus em tempo integral ensinando a Bíblia. O sábio pastor o advertiu: "Não faça isso. Você sairá do chamado de Deus para sua vida. Sim, você pode ensinar, mas você é muito melhor com carros."

O homem ficou bravo, deixou aquela igreja e foi contratado como pastor professor em outra igreja. Tragicamente, tudo o que o pastor havia previsto aconteceu: suas finanças secaram, sua esposa ficou desiludida e seus filhos se afastaram de Deus. Ele voltou ao pastor e confessou seu erro. Renunciou ao cargo e voltou a consertar carros.

Pouco tempo depois, Deus lhe deu um sonho sobre como diagnosticar problemas em carros usando um computador. Ele desenvolveu a tecnologia e seu negócio cresceu exponencialmente. Ele finalmente entendeu e disse ao pastor: "Meu chamado é consertar carros."

Ele tinha a habilidade de ensinar, mas estava tentando usá-la na arena errada. Seu chamado principal era no mundo dos negócios, abençoando o Reino de Deus financeiramente. Quando conhecemos nosso chamado, garantimos que nossos dons sejam usados na área de máxima eficácia.


Por Que Viver no Chamado (Parte 1): A Satisfação e a Plenitude Verdadeiras

A primeira razão crucial para viver ativamente no seu chamado é que somente nele você encontrará satisfação e plenitude genuínas.

Quando você opera dentro do propósito para o qual Deus o criou, algo muda em seu espírito. Você não está apenas existindo ou cumprindo tarefas; você começa a exalar vida e energia.

Muitos podem se identificar com a sensação de pavor ao enfrentar o trabalho diário — talvez em um escritório corporativo ou em uma carreira escolhida por razões práticas, mas não por vocação. No entanto, quando você se alinha com seu chamado divino, a sensação é oposta: você mal pode esperar para se levantar e fazer o que Deus o chamou para fazer. A obra, mesmo que árdua, torna-se uma fonte de entusiasmo e vida.

O apóstolo Paulo captura perfeitamente essa ideia na carta aos Gálatas, exortando os crentes a se concentrarem em seu próprio desígnio:

Prestem muita atenção à sua própria obra, porque assim vocês terão a satisfação de um trabalho bem feito e não precisarão se comparar com ninguém. (Gálatas 6:4, NVT)

Este versículo revela duas bênçãos profundas de viver no chamado:

  1. A Satisfação do Trabalho Bem Feito: Há uma realização profunda que vem de fazer a sua própria obra — não a obra de outra pessoa, não o que esperam de você, mas aquilo que Deus preparou para você.
  2. O Fim da Comparação Destrutiva: Quando você está verdadeiramente satisfeito e realizado fazendo o que Deus o chamou para fazer, você deixa de ter inveja do que os outros fazem. Você pode admirar amigos que são atletas profissionais, grandes empresários ou mães dedicadas, mas não os inveja. Por quê? Porque você está pleno em sua própria arena.

Seja qual for a sua vocação — seja criar três filhos em casa, liderar no governo ou pastorear uma igreja — viver no seu chamado o liberta da armadilha da inveja e o enche de uma satisfação que o mundo não pode oferecer.


Por Que Viver no Chamado (Parte 2): A Força Que Vem do Alimento Espiritual

A segunda razão pela qual é vital viver no seu chamado é que você será fortalecido. Fazer a vontade de Deus não é um fardo que drena sua vida; é a própria fonte de sua força.

Jesus modelou isso perfeitamente. Ele não via o cumprimento de Sua missão como uma obrigação cansativa, mas como Seu sustento. Ele declarou:

"O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e concluir a sua obra." (João 4:34, NVI)

Vamos analisar o que o alimento faz por nós. Se você tentasse cavar valas por oito horas ou jogar uma partida intensa de futebol americano sem comer por sete dias, você não teria força. O alimento nos dá força e nos energiza.

Quando estamos no nosso chamado, somos energizados. Estar no chamado é o nosso alimento espiritual.

Veja o contraste devastador na vida do Rei Davi. Em 2 Samuel, lemos uma passagem trágica:

Aconteceu, na primavera do ano, na época em que os reis saem para a batalha, que Davi enviou Joabe, e seus servos com ele, e todo o Israel; e eles destruíram o povo de Amom e cercaram Rabá. Mas Davi permaneceu em Jerusalém. (2 Samuel 11:1, NKJV)

Era a época em que os reis deveriam estar na batalha. Davi tinha o título de rei, mas não estava operando em seu chamado de rei-guerreiro. Ele não estava sendo "alimentado" ou energizado por sua vocação. O resultado? Ele não teve forças para resistir à tentação. Ele sai para a varanda, vê Bate-Seba, e o resto é uma história de pecado e colapso.

Jesus disse: "Meu alimento é fazer a vontade". A energia vem no fazer. Ele também disse: "...e concluir a sua obra." Não se trata apenas de começar, mas de perseverar.

Quando você está ativamente engajado no que Deus o chamou para fazer, você não opera apenas com sua própria força; você é fortalecido e energizado pela própria obra que Ele lhe deu para realizar.


Por Que Viver no Chamado (Parte 3): Florescendo, Sendo Recompensado e Cheio de Alegria

Viver engajado no chamado de Deus resulta em duas das mais profundas bênçãos que podemos experimentar: florescimento nesta vida e plenitude de alegria.

Muitos ministros, por exemplo, são genuinamente chamados por Deus, mas com o tempo, deixam de operar pelo poder e pela graça de Deus, passando a "manter" o ministério por sua própria força. Eles se tornam como Davi em Jerusalém: têm o título, mas não têm paixão, energia ou vida. Eles executam uma ocupação, mas não estão engajados em seu chamado.

A diferença é palpável. Há pessoas que, ao entrarem em um ambiente, trazem tanta vida que você se sente inspirado a mudar o mundo. Outras, ao contrário, parecem carregar um peso que suga a energia do local. A diferença é o engajamento ativo no chamado.

Veja o exemplo de Aron, um jogador de golfe profissional. Ele estava em um ano terrível, posicionado em 124º no ranking, correndo o risco de perder sua licença profissional. Durante uma conferência, ele teve um encontro profundo com Deus. Mais tarde, ele confessou ao seu amigo e mentor, John Bevere, o que Deus lhe havia dito: "Pare de tentar pregar e comece a jogar golfe."

Aron revelou que estava participando dos torneios apenas como um meio de juntar dinheiro, pois seu verdadeiro desejo era construir um ministério, pois ele invejava o que seu amigo pregador fazia. Quando Aron teve aquele encontro com Deus, ele parou totalmente de tentar construir um ministério e voltou a investir 100% em seu chamado principal: o golfe. Em um ano e meio, ele venceu seu primeiro torneio mundial e tornou-se o 16º melhor jogador do mundo.

Quando você está no seu chamado, buscando o seu chamado, você floresce e é recompensado aqui nesta terra.


Isso nos leva à bênção final: você será cheio de alegria.

Essa não é uma alegria superficial, mas a alegria do Senhor, que é a nossa força (Neemias 8:10). É essa alegria que nos dá a força para superar as provações e as dificuldades da vida.

O apóstolo Paulo entendia isso profundamente. Ele estava engajado em seu chamado de apóstolo aos gentios. Ao escrever à igreja em Filipos, ele declara:

Portanto, meus irmãos, a quem amo e de quem tenho saudades, minha alegria e coroa, permaneçam assim firmes no Senhor, amados! (Filipenses 4:1, NVI)

Paulo os chama de sua "alegria" e "coroa" (recompensa) pela sua obra. A alegria dele não vinha de status ou riqueza, mas de ver o fruto daquilo que ele foi chamado a fazer: vidas transformadas.

Há uma satisfação e uma realização no chamado que nada neste mundo pode igualar. Muitos sonham com grandes feitos mundanos — talvez ganhar um campeonato como Wimbledon. Mas essa vitória jamais se compararia à realização de ver uma vida transformada pelo Evangelho. Por quê? Porque quando você opera no seu chamado, você está fazendo exatamente aquilo para o qual foi criado. A alegria não vem do sucesso, mas da obediência ao desígnio.


Conclusão: A Recompensa Eterna do Chamado Cumprido

Examinamos tantas razões vitais para abraçar o propósito divino. Vimos que conhecer o chamado nos dá foco para resistir às correntes da vida e sabedoria para usar nossos dons efetivamente. Vimos que viver no chamado nos traz uma satisfação incomparável, nos fortalece com o alimento espiritual, nos faz florescer e nos enche de uma alegria que transcende as circunstâncias.

Há, no entanto, um aspecto final, o "porquê" mais importante de todos, que eleva nossa perspectiva acima do tempo e da terra: seremos recompensados eternamente.

Embora as bênçãos de viver no chamado — a plenitude, a força e o florescimento — sejam evidentes nesta vida, elas são apenas um vislumbre da glória que está por vir. A obediência ao desígnio de Deus não termina aqui; ela ecoa na eternidade.

Este é, talvez, o motivo mais poderoso para descobrirmos e cumprirmos o nosso chamado. Não buscamos o propósito de Deus apenas para uma vida melhor agora, mas para ouvirmos Dele na eternidade: "Muito bem, servo bom e fiel". As recompensas terrenas são temporárias, mas a recompensa celestial é eterna.

Que esta compreensão dos "porquês" acenda em seu coração um desejo santo de buscar, conhecer e viver plenamente o GPS divino que Deus preparou de antemão para você.


Sozo Produções. John Bevere — Série Chamados | 2 - A Razão Antes da Coisa https://www.youtube.com/watch?v=oDMlQZalK6I&list=PLtR9jVQ4cFLJRvUi4pZm0TWQiWPXTH2WA&index=9, acesso em 10/11/25.

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há 22 horas
Matéria: Bíblia
Artigo

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