1. Introdução e Contexto Histórico: O Significado de "Revelação", Autoria e Datação

O livro do Apocalipse é, frequentemente, envolto em uma aura de mistério e incompreensão. Para muitos, representa um texto indecifrável ou um roteiro de terror; no entanto, uma análise cuidadosa de seus versículos iniciais e do contexto histórico em que foi redigido revela um propósito muito diferente: o de trazer clareza, consolo e esperança para a Igreja.

O Significado de "Apocalipse"

O título do livro deriva diretamente da primeira palavra do texto grego original: Apokalypsis. Diferente do senso comum que associa a palavra a catástrofes ou ao fim do mundo, seu significado literal é "revelação", "desvendamento" ou "tirar o véu". Trata-se de trazer à luz aquilo que estava oculto.

Portanto, o livro não foi escrito para esconder verdades, mas para expô-las. Conforme o texto bíblico declara logo em sua abertura, trata-se da "Revelação de Jesus Cristo", dada por Deus para mostrar aos seus servos o que deve acontecer.

"Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João..." (Apocalipse 1:1)

Assim, o Apocalipse é o descortinar da glória de Cristo e do plano redentor de Deus na história, abrangendo eventos que percorrem desde a primeira vinda de Jesus até a sua segunda vinda escatológica.

Autoria e Localização Geográfica

A autoria do livro é atribuída ao apóstolo João. No momento da escrita, João era o único remanescente do colégio apostólico original — todos os outros apóstolos, incluindo Matias, já haviam sido martirizados. Estima-se que João tivesse aproximadamente 90 anos de idade.

O cenário da recepção desta profecia não foi um gabinete de estudos, mas o exílio. João servia como pastor na igreja de Éfeso (anteriormente pastoreada por Paulo e Timóteo) quando foi preso pelo Império Romano devido à sua fé inabalável e ao testemunho de Jesus. Ele foi deportado para a Ilha de Patmos, uma pequena ilha rochosa no Mar Egeu, situada a cerca de 40 quilômetros de Éfeso. Patmos funcionava como uma colônia penal romana, destinada ao banimento de criminosos e dissidentes políticos.

Foi neste ambiente de restrição e sofrimento, "na tribulação, no reino e na perseverança" (Ap. 1:9), que João recebeu as visões que compõem o livro, registrando-as fielmente em pergaminhos para serem enviadas às sete igrejas da Ásia Menor.

Datação e Contexto Político

A data mais provável e aceita para a escrita do Apocalipse é o ano de 94 d.C., durante o final do reinado do imperador Flávio Tito Domiciano.

Para compreender a urgência e o tom do livro, é crucial entender a figura de Domiciano. Ele era conhecido popularmente como "o segundo Nero" ou Nero Redivivus (Nero ressuscitado), devido à sua crueldade e tirania comparáveis às do infame imperador que incendiara Roma décadas antes. Domiciano foi além de seus predecessores ao instituir o culto imperial de maneira rígida, exigindo ser adorado como "Senhor e Deus" (Dominus et Deus).

Nesse contexto, os cristãos enfrentavam um dilema mortal: confessar que "César é Senhor" ou manter sua confissão de que "Jesus é Senhor" e enfrentar a perseguição, o exílio ou a morte. O Apocalipse surge, então, não apenas como uma previsão do futuro, mas como um manifesto de resistência espiritual e consolo. Ele assegura aos crentes que, apesar da aparente supremacia de Roma (muitas vezes associada à "Besta" no contexto imediato da época), o verdadeiro Trono está nos céus e a vitória final pertence a Cristo.


2. A Natureza Literária do Livro: Simbolismo, Alegoria e a Interpretação Correta

Para compreender a mensagem do Apocalipse, é fundamental identificar corretamente o seu gênero literário. Uma das maiores barreiras para o entendimento deste livro reside na tentativa de lê-lo com uma literalidade estrita, ignorando a riqueza de sua linguagem simbólica e visual.

O Perigo da Leitura Literal

O Apocalipse pertence, como o próprio nome sugere, ao gênero apocalíptico, que é caracterizado pelo uso intenso de visões, símbolos e alegorias para comunicar verdades espirituais e históricas. O texto não deve ser interpretado como uma descrição jornalística ou fotográfica de eventos físicos, mas sim como uma representação teológica.

Quando o texto descreve, por exemplo, um "Cordeiro com uma espada saindo da boca", não se deve imaginar uma criatura biológica híbrida, o filho de uma ovelha com uma arma branca no esôfago. Trata-se de uma alegoria poderosa: o Cordeiro representa Jesus Cristo em seu sacrifício redentor, e a espada que sai de sua boca simboliza a Palavra de Deus, a arma de julgamento e verdade.

Da mesma forma, quando João relata ter visto um "dragão" ou "gafanhotos com rostos humanos e caudas de escorpião", ele não está descrevendo monstros genéticos ou mutantes físicos que invadirão a Terra. Estas são imagens que remetem a realidades espirituais, forças demoníacas e juízos divinos. Ler tais passagens literalmente não apenas confunde o leitor, mas empobrece a profunda teologia contida na imagem.

A Linguagem dos Sinais e Números

O livro é construído sobre um alicerce de "sinais". João vê cores, criaturas, astros e fenômenos naturais que funcionam como códigos para mensagens específicas. Entre esses códigos, a numerologia desempenha um papel central na estrutura literária da obra.

O Apocalipse utiliza frequentemente os números 3, 4, 10 e 12, mas nenhum número possui tanto destaque quanto o sete. Na tradição bíblica e judaica, o sete é o número da perfeição divina, da completude e da totalidade. A estrutura do livro é intencionalmente heptádica (baseada em sete):

  • O número sete é mencionado explicitamente em dezenas de versículos.
  • Aparecem sete bem-aventuranças.
  • A narrativa é conduzida por séries de sete: Sete Igrejas, Sete Selos, Sete Trombetas, Sete Taças da Ira.
  • Há sete referências específicas sobre a volta de Jesus.
  • O título "Deus Todo-Poderoso" é utilizado sete vezes.

Essa repetição não é coincidência, mas uma assinatura literária que enfatiza a soberania absoluta de Deus e o controle perfeito que Ele exerce sobre a história e o julgamento do mundo.

O Tema Central: A Vitória de Cristo

Ao decodificar essa linguagem alegórica, o leitor descobre que o tema predominante do Apocalipse não é o medo, a destruição do planeta ou a ascensão do mal. O tema central é a Vitória Final de Cristo.

Embora o livro descreva terrores, bestas e juízos, estes são o destino dos ímpios, dos falsos profetas e dos inimigos de Deus. Para a Igreja, os eleitos e os redimidos, o Apocalipse é o livro da redenção e da consumação da esperança cristã. Ele narra a trajetória vitoriosa Daquele que venceu a morte e que conduz a história para o seu desfecho glorioso: o estabelecimento do Reino de Deus e a derrota definitiva do mal.


3. As Escolas de Interpretação: Preterista, Futurista e Histórico-Espiritual

A diversidade de opiniões sobre o Apocalipse muitas vezes não decorre apenas da dificuldade do texto em si, mas das lentes através das quais ele é lido. Ao longo da história da teologia, três principais escolas de interpretação se consolidaram, cada uma oferecendo uma abordagem distinta sobre como situar as profecias do livro no tempo.

Compreender essas linhas é essencial para navegar no estudo do livro sem se perder em especulações infundadas.

A Escola Preterista

O termo "preterista" deriva da palavra "pretérito", que significa passado. Para os adeptos desta escola, o Apocalipse é um livro cujo cumprimento profético já se encerrou inteiramente.

Segundo essa visão, as visões de João foram escritas exclusivamente para a Igreja Primitiva do primeiro século. Os símbolos, as bestas e os juízos referem-se apenas aos eventos daquela época, especificamente à perseguição sob o Império Romano e à destruição de Jerusalém no ano 70 d.C.

  • A Besta: Seria o Império Romano ou o Imperador Nero.
  • O Falso Profeta: Seria a classe sacerdotal judaica corrupta ou o culto imperial.

Embora essa visão ancore o livro em seu contexto histórico original, ela apresenta uma limitação severa: torna o Apocalipse irrelevante para os cristãos de todas as outras eras, incluindo a atual. Se tudo já se cumpriu, o livro se torna apenas um registro arqueológico, sem mensagem profética vigente para a igreja contemporânea ou futura.

A Escola Futurista

No extremo oposto do espectro está a escola futurista. Esta corrente ensina que o livro de Apocalipse, com exceção talvez dos três primeiros capítulos (as cartas às igrejas), trata exclusivamente de eventos que ocorrerão em um futuro remoto, no fim dos tempos.

Para os futuristas, as descrições de selos, trombetas e taças não têm relação com a história da igreja ao longo dos séculos, mas aguardam um cumprimento literal em um curto período de tribulação final.

A fragilidade desta interpretação reside no fato de que ela priva a igreja sofredora de todas as eras do consolo imediato que o livro oferece. Se o Apocalipse fala apenas de uma geração futura, que mensagem ele teria para os mártires da Idade Média, da Reforma ou para os cristãos perseguidos hoje? Essa visão desconecta a profecia da vivência contínua do povo de Deus.

A Escola Histórico-Espiritual

A terceira via, e a que adotamos como a mais coerente com a totalidade das Escrituras e com a teologia reformada, é a interpretação Histórico-Espiritual.

Esta visão harmoniza as tensões das anteriores, compreendendo que o Apocalipse abrange todos os períodos da história da redenção. O livro foi escrito para o público do passado (a Igreja Primitiva), é vital para o público do presente (nós) e aponta para o público do futuro (a consumação final).

Sob esta ótica:

  1. Passado: O livro trata da primeira vinda de Cristo, seu nascimento e vitória na cruz.
  2. Presente: Descreve realidades espirituais que ocorrem ao longo de toda a "era da igreja", como a pregação do Evangelho, a perseguição aos santos e os juízos parciais de Deus na história (simbolizados, por exemplo, pelos quatro cavaleiros).
  3. Futuro: Aponta para a segunda vinda literal de Cristo, o juízo final e os novos céus e nova terra.

Dessa forma, o Apocalipse é um livro perpetuamente atual. Ele não é um jornal de ontem (preterismo) nem apenas uma previsão do amanhã (futurismo), mas uma revelação da soberania de Cristo sobre a história inteira, desde a sua ascensão até o seu retorno. É sob essa perspectiva abrangente que as grandes confissões de fé históricas interpretam a vitória do Cordeiro.


4. Correntes Escatológicas e o Milênio: Uma Análise do Pós-Milenismo, Dispensacionalismo e Amilenismo

Além das escolas de interpretação sobre o período histórico do livro, é crucial compreender as diferentes posições teológicas a respeito do "Milênio" — o período de mil anos mencionado no capítulo 20 de Apocalipse. Existem três visões predominantes que moldam como os cristãos enxergam o fim dos tempos, a volta de Cristo e o futuro da Igreja.

O Pós-Milenismo: A Esperança de uma Era de Ouro

A visão pós-milenista ensina que a segunda vinda de Cristo ocorrerá após (pós) o Milênio. Segundo essa corrente, o Milênio não é necessariamente um reino literal de mil anos com Cristo fisicamente na Terra, mas um período de ouro alcançado pelo avanço do Evangelho.

Teólogos históricos como Jonathan Edwards e Charles Hodge defendiam que a pregação da Palavra e a ação missionária seriam tão eficazes que o mundo seria "cristianizado". A sociedade experimentaria paz, prosperidade e retidão moral crescentes. Ao final desse período de grande conversão mundial, Cristo retornaria.

A Crítica Bíblica e Histórica: Embora otimista, essa visão enfrenta sérios desafios. A história recente contradiz a ideia de um mundo que melhora moralmente; as Guerras Mundiais e a secularização da Europa (hoje um continente pós-cristão) são exemplos claros. Mais importante ainda, as Escrituras não prometem um "mundo melhor" antes do fim. Pelo contrário, textos como 2 Timóteo descrevem os últimos dias como "tempos difíceis", marcados pela apostasia e frieza do amor, não por um triunfo social da igreja.

O Dispensacionalismo (Pré-Milenismo Dispensacional)

Esta é a visão majoritária no evangelicalismo brasileiro atual, embora seja historicamente recente (popularizada no século XIX por John Nelson Darby e disseminada pela Bíblia de Estudo Scofield e pela série Deixados Para Trás).

O dispensacionalismo baseia-se em premissas específicas:

  • Dois Povos Distintos: Acredita que Deus tem planos separados para Israel (povo terreno) e a Igreja (povo celestial).
  • O Reino Adiado: Ensina que Jesus ainda não reina no Trono de Davi; isso só aconteceria no futuro Milênio literal, após a reconstrução do Templo em Jerusalém.
  • O Arrebatamento Secreto: Propõe que Cristo voltará em duas fases. A primeira seria invisível, "antes da tribulação", para arrebatar a Igreja secretamente.
  • Múltiplas Ressurreições: Haveria uma ressurreição no arrebatamento, outra após a tribulação e uma terceira ao final do milênio.

A Crítica Bíblica: A teologia reformada aponta erros graves nesta interpretação. A Bíblia afirma que Deus tem apenas um povo: a Igreja, composta de judeus e gentios enxertados na mesma oliveira (Efésios 2). Além disso, o Novo Testamento declara que o Reino de Deus já chegou e que Cristo já está assentado no trono (Atos 2:30-36).

Outro ponto crítico é a ideia de "segunda chance" ou repescagem após o arrebatamento, que sugere que pessoas que ficarem para trás ainda poderão ser salvas na tribulação. As Escrituras ensinam uma única vinda visível — "todo olho o verá" — seguida imediatamente pelo juízo, sem chances posteriores de salvação.

"Logo depois da tribulação daqueles dias... aparecerá no céu o sinal do Filho do homem... e ele enviará os seus anjos... os quais ajuntarão os seus escolhidos." (Mateus 24:29-31)

A Igreja, portanto, não é retirada antes da tribulação, mas preservada por Deus através dela.

O Amilenismo: A Realidade do Reino Presente

A terceira posição, e a que adotamos como a mais fiel às Escrituras, é o Amilenismo (ou Milenismo Realizado). O prefixo "a" não significa a inexistência de um milênio, mas nega um milênio literal e terreno de mil anos cronológicos.

Para o amilenista:

  1. O Milênio é Agora: O "reino de mil anos" é uma linguagem simbólica para descrever a Era da Igreja, o período compreendido entre a primeira vinda de Cristo (ascensão) e a sua segunda vinda.
  2. O Reinado de Cristo: Jesus já está reinando à destra do Pai. O número 1.000 simboliza um tempo completo e perfeito, determinado por Deus, não uma data no calendário.
  3. Evento Único: Não há distinção entre arrebatamento e segunda vinda. Trata-se de um único evento glorioso que ocorre após a tribulação, encerrando a história humana.
  4. Israel e a Igreja: Somos o verdadeiro Israel de Deus, o povo da fé, descendência de Abraão (Gálatas 3:29).

'E, se vocês são de Cristo, são também descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa.' (Gálatas 3:29)

Esta visão oferece consolo real, pois assegura que Satanás já está "amarrado" (limitado em seu poder de impedir a propagação do Evangelho às nações) e que os santos, mesmo sofrendo perseguição, reinam com Cristo espiritualmente agora, aguardando a consumação visível desse reino.


5. A Estrutura dos Sete Ciclos: O Paralelismo Progressivo como Chave de Leitura

Uma das descobertas mais libertadoras para o estudante do Apocalipse é compreender a sua estrutura literária. A grande maioria dos leitores aborda o livro de maneira linear e cronológica, assumindo que os eventos do capítulo 6 ocorrem temporalmente após o capítulo 5, e que o capítulo 10 sucede o 9 na linha do tempo, e assim por diante até o capítulo 22.

Essa leitura linear, no entanto, gera confusão, pois o leitor atento notará que o "fim do mundo" ou o Juízo Final parece acontecer diversas vezes ao longo do livro, apenas para a narrativa "reiniciar" logo em seguida.

A Teoria da Recapitulação

Para interpretar o livro corretamente, adotamos a visão do Paralelismo Progressivo (ou Recapitulação). Isso significa que o Apocalipse não conta uma única história longa do início ao fim em ordem sequencial. Em vez disso, ele conta e reconta a mesma história sete vezes.

O livro é dividido em sete seções ou ciclos. Cada uma dessas seções cobre o mesmo período de tempo: da primeira vinda de Cristo (nascimento/morte/ressurreição) até a Sua segunda vinda (consumação final).

Não se trata de repetição vazia, mas de perspectiva. Assim como os quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) narram a mesma vida de Jesus, mas sob óticas, ênfases e detalhes diferentes, as sete seções do Apocalipse examinam a era da Igreja sob ângulos distintos:

  • Um ciclo pode focar na perseguição da Igreja.
  • Outro pode focar no julgamento dos ímpios.
  • Outro na vitória de Cristo sobre Satanás.

A Mesma História, Ângulos Diferentes

Essa estrutura cíclica explica a dinâmica do livro. Do capítulo 1 ao 3, temos um ciclo completo. Do 4 ao 7, outro ciclo completo que narra novamente a história, mas com símbolos diferentes. Do 8 ao 11, a história é recontada mais uma vez, e assim sucessivamente até o fim.

  • Ênfase Progressiva: Embora os ciclos cubram o mesmo período, há uma progressão na intensidade e no foco. À medida que o livro avança, a ênfase muda do que acontece na terra para o que acontece no céu, e da advertência parcial para o juízo final total.

Compreender essa estrutura não linear é a "chave mestra" que destrava o significado do livro. Ela nos impede de tentar montar um quebra-cabeça cronológico impossível e nos permite ver a riqueza teológica de cada seção como uma pintura completa da vitória de Cristo sobre o mal em toda a era presente.


6. Análise das Sete Seções: Das Cartas às Igrejas à Consumação Final

Compreendendo a estrutura de recapitulação, podemos agora navegar pelas sete seções (ou ciclos) que compõem o livro. Cada uma delas narra a batalha entre o Reino de Deus e as trevas, culminando sempre na vitória de Cristo, mas com focos e ênfases distintos.

1ª Seção: Cristo e os Sete Candelabros (Capítulos 1 a 3)

O primeiro ciclo é voltado para a vida interna da Igreja. João vê Jesus glorificado andando no meio de sete candelabros de ouro, que representam as sete igrejas da Ásia (Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia).

A mensagem central aqui é encorajamento e perseverança. A Igreja sofre perseguição externa (Império Romano) e conflitos internos, mas Cristo assegura que está presente entre eles ("no meio dos candelabros"), sustentando e protegendo seu povo. É um chamado para não temer o sofrimento, pois o Senhor conhece suas obras.

2ª Seção: O Cordeiro e os Sete Selos (Capítulos 4 a 7)

Nesta seção, a cena muda para a sala do Trono no céu. O foco é a soberania de Cristo sobre a história. Deus segura um livro selado com sete selos, representando o decreto divino e o desenrolar da história humana. Apenas o "Leão da tribo de Judá", que é também o "Cordeiro que foi morto", é digno de abrir o livro.

"Digno és de tomar o livro e de abrir os seus selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação." (Apocalipse 5:9)

Ao abrir os selos, não vemos apenas o futuro, mas o processo de redenção e julgamento que ocorre entre a primeira e a segunda vinda. Cristo tem o controle da história porque venceu na cruz.

3ª Seção: As Sete Trombetas (Capítulos 8 a 11)

Com a abertura do sétimo selo, iniciam-se as trombetas. As trombetas simbolizam juízos de advertência divinos sobre o mundo. Note que o dano causado é parcial: afeta "a terça parte" da terra, do mar e das estrelas.

Estes não são os juízos finais de aniquilação, mas avisos severos de Deus para chamar os ímpios ao arrependimento enquanto há tempo. Deus abala o mundo natural e as estruturas humanas para despertar a humanidade.

4ª Seção: O Dragão e a Mulher (Capítulos 12 a 14)

Esta é a seção central e mais profunda do livro, pois revela a batalha espiritual nos bastidores. João vê:

  1. A Mulher: Representando o povo de Deus (Israel no AT, Igreja no NT).
  2. O Dragão: Satanás, que tenta devorar o Filho da Mulher (Jesus).

Ao falhar em destruir Cristo, o Dragão volta sua fúria contra a descendência da mulher: a Igreja. Para isso, ele convoca dois aliados monstruosos: a Besta que sobe do Mar (poder político/militar perseguidor) e a Besta que sobe da Terra (poder religioso falso/ideológico).

5ª Seção: As Sete Taças da Ira (Capítulos 15 a 16)

Diferente das trombetas (que eram parciais, afetando 1/3), as taças representam o derramamento total e final da Ira de Deus. Não há mais tempo para arrependimento; é o momento da punição.

"O quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol... Com efeito, os homens se queimaram com o intenso calor, e blasfemaram o nome de Deus... e nem se arrependeram para lhe dar glória." (Apocalipse 16:8-9)

Este ciclo mostra a dureza do coração humano e a justiça retributiva de Deus sendo plenamente executada.

6ª Seção: O Julgamento da Babilônia e das Bestas (Capítulos 17 a 19)

Aqui ocorre um detalhe literário fascinante. Nos capítulos 12 a 14, os inimigos surgiram nesta ordem: Dragão -> Besta do Mar -> Besta da Terra -> Babilônia. Agora, no momento do julgamento, Deus lida com eles na ordem inversa:

  1. Queda da Babilônia (Caps. 17-18): O sistema mundano de sedução e comércio colapsa ("Caiu, caiu a grande Babilônia").
  2. Julgamento das Bestas (Cap. 19): O Anticristo e o Falso Profeta são lançados no lago de fogo.

7ª Seção: A Consumação Final (Capítulos 20 a 22)

O ciclo final trata do último inimigo restante: o próprio Dragão.

  • O Julgamento de Satanás: Ele é, finalmente, lançado no lago de fogo e enxofre para todo o sempre (Ap 20:10).
  • O Trono Branco: O juízo final de todos os mortos.
  • Novos Céus e Nova Terra: A restauração completa da criação, a Nova Jerusalém descendo do céu e a união eterna de Deus com seu povo.

7. Conclusão: A Urgência do Tempo e a Bem-Aventurança dos Leitores

Ao encerrarmos este panorama sobre o Apocalipse, é vital retornar ao início, onde encontramos uma promessa singular que define o tom de toda a obra. Diferente do medo que muitos nutrem, o livro começa e termina com uma declaração de felicidade para aqueles que se debruçam sobre suas páginas.

"Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo." (Apocalipse 1:3)

O Chamado à Bem-Aventurança

A palavra "bem-aventurado" (do grego makarios) pode ser traduzida como feliz, abençoado e, num sentido mais profundo, sábio ou inteligente. João está afirmando que estudar o Apocalipse não é uma tarefa para fanáticos ou curiosos, mas um ato de sabedoria espiritual que atrai a bênção de Deus.

Os verbos utilizados no texto original indicam uma ação contínua e comunitária:

  • Ler: Refere-se à leitura pública das Escrituras. Bem-aventurado é aquele que expõe esta palavra à congregação.
  • Ouvir: Não é apenas escutar o som, mas dar atenção, considerar com seriedade.
  • Guardar: Significa obedecer, reter no coração e praticar.

Portanto, a instrução é clara: leiam e continuem lendo; ouçam e continuem ouvindo; guardem e continuem guardando. O livro deve ser manuseado constantemente, decorado e vivido pela Igreja.

O Tempo é Agora

A razão para essa urgência é dada na frase final do versículo: "pois o tempo está próximo".

No grego, existem duas palavras principais para tempo: Chronos (tempo cronológico, de relógio) e Kairos (tempo oportuno, momento determinado, uma época específica). O termo usado aqui remete à ideia de que o momento da execução dos propósitos de Deus já chegou.

Não devemos olhar para o Apocalipse como um evento estático num futuro distante. O "fim dos tempos" biblicamente iniciou-se com a primeira vinda de Cristo. As profecias já estão em curso. Estamos vivendo o desenrolar dos selos, o soar das trombetas e a batalha espiritual descrita nos ciclos do livro.

Considerações Finais

O Apocalipse é, acima de tudo, a revelação da soberania de Jesus Cristo. Ele foi dado para consolar os cristãos perseguidos, advertir os indiferentes e preparar a Noiva para o encontro com o Noivo.

Que este estudo desperte em nós não o pavor do desconhecido, mas o temor do Senhor e a esperança inabalável na vitória do Cordeiro. O Rei já venceu, e o Seu Reino avança inexoravelmente para a consumação final.


Paulo Junior Oficial. Aprenda Interpretar Corretamente o Apocalipse - Paulo Junior | SÉRIE APOCALIPSE Nº 1. Disponível em: https://youtu.be/RVvlNJc0RBU?list=PL0b6f3pZUlzBN_TT2ZKy67i8_oBOXUWEm

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