O Fundamento Inabalável: Cristo como a Pedra Angular
Para compreendermos a estrutura e o governo da igreja, é imprescindível iniciar pelo seu alicerce. Antes de analisarmos os cargos ou a hierarquia humana, precisamos olhar para o fundamento sobre o qual tudo é construído. No contexto do Novo Testamento, não há margem para dúvidas: a igreja depende integralmente da pessoa e da doutrina de Jesus Cristo.
O apóstolo Paulo é enfático ao declarar a exclusividade desse alicerce:
"Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo." (1 Coríntios 3:11)
Da mesma forma, a carta aos Efésios reforça que a igreja, comparada a um edifício ou templo santo, é edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo o próprio Cristo como a pedra principal:
"...edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina, no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor." (Efésios 2:20-21)
A Polêmica de Mateus 16: A Rocha e a Confissão
Historicamente, existe um debate intenso entre católicos e protestantes acerca da interpretação de Mateus 16:16-18. Neste texto, após Pedro confessar que Jesus é "o Cristo, o filho do Deus vivo", Jesus declara:
"Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela." (Mateus 16:18)
A interpretação católica tradicional sugere que Pedro é a rocha sobre a qual a igreja é edificada, o que fundamentaria a primazia papal e a sucessão apostólica. Em contrapartida, muitas vezes no meio evangélico, utiliza-se um argumento linguístico para refutar essa ideia, alegando que "Pedro" (Petros) significaria "pequena pedra" ou fragmento, enquanto "Pedra" (Petra) seria a rocha inabalável (Cristo).
Contudo, uma análise mais rigorosa do grego bíblico aponta que esse argumento da "pedra pequena" não é o mais sólido. As palavras Petros (masculino) e Petra (feminino) são, em muitos contextos, sinônimos para rocha. Quando a Bíblia quer se referir a uma pedra pequena ou um fragmento, utiliza-se a palavra grega lithos (ou lithoi), como vemos na tentação de Jesus no deserto, quando o diabo sugere transformar pedras (lithoi) em pão (Mateus 4:3).
Portanto, Jesus não estava diminuindo Pedro chamando-o de "pedrinha". Ele estava afirmando a solidez de Pedro ("Tu és Rocha"), mas fazendo uma distinção crucial sobre o fundamento. A igreja não é edificada sobre a pessoa humana de Pedro, mas sim sobre a confissão de fé que ele acabou de fazer.
A Igreja Construída sobre a Verdade Revelada
O que torna a igreja firme não é a liderança de um homem falível, mas a revelação divina que Pedro verbalizou: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". É sobre esta verdade — a divindade e o messianismo de Jesus — que a igreja se sustenta.
Isso define a própria natureza de quem faz parte da igreja. A verdadeira igreja é composta por aqueles que compartilham desta mesma fé. Um exemplo claro disso ocorre no batismo do eunuco etíope. Quando ele pede para ser batizado, a condição imposta é a confissão de fé:
"E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus." (Atos 8:37)
Assim, o fundamento eclesiástico é espiritual e doutrinário: a crença inegociável de que Jesus é o Filho de Deus. Qualquer estrutura de governo ou hierarquia que venha a ser estabelecida deve estar subserviente a esta pedra angular.
A Liderança de Pedro e a Análise da Sucessão Apostólica
Uma das questões mais debatidas na história da igreja diz respeito à posição de Pedro e a consequente estrutura hierárquica que se desenvolveu ao longo dos séculos. A tradição católica romana sustenta a primazia de Pedro como o primeiro Papa, baseando-se não apenas na confissão de fé, mas também em ordens específicas de Jesus, como "apascenta as minhas ovelhas" (João 21:17) e a entrega das "chaves do reino" (Mateus 16:19).
No entanto, uma análise exegética do Novo Testamento e dos fatos históricos revela um cenário de liderança compartilhada, diferindo substancialmente do modelo de papado monárquico desenvolvido posteriormente.
As Chaves do Reino e o Pastoreio
O argumento de que Pedro teria autoridade exclusiva sobre a igreja baseia-se na entrega das chaves do reino dos céus. Contudo, essa autoridade de "ligar e desligar" não foi conferida apenas a ele. Em Mateus 18:18, Jesus estende a mesma prerrogativa a todos os discípulos, indicando que a autoridade espiritual pertence ao coletivo apostólico e à igreja, não a um indivíduo isolado.
Por que, então, Jesus entrega as chaves especificamente a Pedro em Mateus 16? A interpretação bíblica mais coerente com o livro de Atos sugere que Pedro recebeu o privilégio de "abrir a porta" do evangelho. Ele foi o pioneiro na evangelização dos dois principais grupos humanos da época:
- Aos Judeus: No dia de Pentecostes (Atos 2).
- Aos Gentios: Na casa de Cornélio (Atos 10).
Da mesma forma, a ordem para apascentar o rebanho não é exclusiva de Pedro. O próprio apóstolo reconhece que essa é uma missão de todos os líderes da igreja. Em sua epístola, ele se coloca como um "co-presbítero", exortando os demais a fazerem o mesmo:
"Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles... Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele..." (1 Pedro 5:1-2)
Paulo também reforça essa visão ao instruir os presbíteros de Éfeso a cuidarem de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os constituiu bispos (Atos 20:28).
A Liderança Coletiva na Igreja Primitiva
Pedro foi, indubitavelmente, um líder proeminente, mas nunca um líder supremo ou infalível. As Escrituras mostram que ele era uma das "colunas" da igreja, ao lado de Tiago e João (Gálatas 2:9), operando dentro de um colégio apostólico.
Provas claras da ausência de supremacia petrina incluem:
- O Concílio de Jerusalém (Atos 15): Na primeira grande decisão doutrinária da igreja sobre a circuncisão dos gentios, Pedro deu seu testemunho, mas quem presidiu e proferiu a sentença final foi Tiago.
- A Repreensão de Paulo (Gálatas 2:11): Paulo relata ter resistido a Pedro "na cara" em Antioquia, pois este estava agindo de forma repreensível ao se afastar dos gentios por medo dos judeus. Isso demonstra que Pedro não era considerado infalível e estava sujeito a correções fraternas.
Evolução Histórica e o Papado Moderno
O conceito de um bispo supremo sobre toda a cristandade não existia no primeiro século. A igreja antiga organizava-se em torno de cinco grandes centros ou patriarcados: Jerusalém, Antioquia, Éfeso, Constantinopla e Roma.
Com o tempo, Roma (antiga capital imperial) e Constantinopla (nova capital) ganharam proeminência política. A reivindicação romana de supremacia universal só se consolidou séculos mais tarde, culminando no Grande Cisma do Oriente em 1054, que dividiu a cristandade entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa.
Além disso, há divergências teológicas fundamentais entre o perfil de Pedro e o Papado moderno:
- Infalibilidade: Diferente do dogma da infalibilidade papal, Pedro era falho e foi corrigido publicamente.
- Estado Civil: Pedro era casado (a cura de sua sogra é narrada nos evangelhos), enquanto o clero romano adota o celibato.
- Títulos: O Papa é chamado de "Vigário de Cristo" (substituto) e "Sumo Pontífice" (construtor de pontes/mediador). Teologicamente, o Novo Testamento aponta o Espírito Santo como o verdadeiro substituto de Jesus na Terra ("o outro Consolador") e afirma categoricamente que:
"Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem." (1 Timóteo 2:5)
Portanto, a liderança na igreja primitiva não dependia de um intermediário humano supremo, mas de uma pluralidade de líderes servindo sob a autoridade única de Cristo.
Distinção Bíblica: Dons Ministeriais e Cargos Eclesiásticos
Uma das maiores confusões na estrutura das igrejas contemporâneas reside na mistura entre dons espirituais e cargos institucionais. O Novo Testamento estabelece uma distinção clara entre aquilo que é uma capacitação divina soberana e aquilo que é uma função reconhecida pela comunidade de fé. Compreender essa diferença é vital para entender o funcionamento orgânico da igreja primitiva.
Dons Ministeriais: A Soberania de Cristo
Os dons ministeriais são capacidades espirituais dadas diretamente por Jesus à sua igreja, conforme Sua vontade soberana. Eles não dependem de eleições, cursos ou reconhecimento humano para existirem; são vocações divinas.
Conforme Efésios 4:11, estes dons são: Apóstolos, Profetas, Evangelistas e Pastores-Mestres.
- Fonte: É Jesus quem dá ("Ele mesmo deu uns para...").
- Natureza: Habilidade e vocação para o serviço e edificação do corpo.
- Independência: Jesus concede esses dons a homens, mulheres, jovens ou idosos, independentemente de cargo oficial.
Detalhamento dos Dons:
- Apóstolo: O enviado, missionário que planta igrejas e desbrava novos campos.
- Profeta: Aquele que fala a mensagem de Deus, trazendo exortação e direção sob inspiração.
- Evangelista: O ganhador de almas, capacitado para expor o evangelho e levar à conversão.
- Pastor-Mestre: No grego, a construção gramatical indica que se trata de uma única função composta. É o dom de apascentar (cuidar/guiar) através do ensino da Palavra. Não é apenas um líder, é um nutridor doutrinário.
Cargos Eclesiásticos: O Reconhecimento da Igreja
Diferente dos dons, os cargos eclesiásticos são posições funcionais que exigem o reconhecimento da assembleia. A igreja identifica pessoas que já possuem as qualificações morais e espirituais (descritas em 1 Timóteo 3 e Tito 1) e as estabelece nessas funções, geralmente por meio de escolha ou votação.
No Novo Testamento, existem fundamentalmente dois cargos:
- Diácono (Liderança Administrativa): Embora a palavra signifique "servo", o diácono no NT exerce uma liderança administrativa séria. Foram instituídos em Atos 6 para gerir os recursos e a assistência social da igreja, permitindo que os líderes espirituais focassem na oração e na Palavra.
- Presbítero/Bispo (Liderança Doutrinária): São os responsáveis pela supervisão espiritual e ensino.
Nota Importante: É perfeitamente possível alguém ter um cargo e um dom diferentes. Um exemplo clássico é Filipe. Em Atos 6, ele é eleito Diácono (cargo administrativo). Anos depois, em Atos 21:8, ele é chamado de Evangelista (dom ministerial). Ele servia à mesa como oficial da igreja, mas exercia seu dom ganhando almas em Samaria e no deserto.
A Sinonímia entre Presbítero e Bispo
Hoje, é comum vermos uma hierarquia onde o Bispo está acima do Pastor, que está acima do Presbítero. Entretanto, na igreja primitiva, Presbítero e Bispo eram a mesma pessoa.
- Presbítero (do grego Presbyteros): Significa "ancião". Termo de origem judaica, focado na maturidade e experiência.
- Bispo (do grego Episcopos): Significa "supervisor". Termo de origem grega, focado na função de supervisionar o rebanho.
A prova bíblica dessa equivalência está em textos onde as palavras são intercambiáveis. Em Atos 20, Paulo chama os anciãos (presbíteros) de Éfeso e lhes diz que o Espírito Santo os constituiu bispos para pastorearem a igreja (Atos 20:17, 28). Da mesma forma, em Tito 1:5-7, Paulo ordena a constituição de presbíteros e imediatamente descreve as qualificações do bispo, tratando-os como o mesmo ofício.
A separação hierárquica — onde o Bispo se torna um líder regional sobre vários presbíteros — é um desenvolvimento histórico que surgiu apenas a partir do segundo século (governo monárquico), não sendo uma prática apostólica original.
A Origem do Título "Pastor"
Curiosamente, o termo "Pastor" raramente é usado na Bíblia como um título de cargo, mas sim como a descrição de uma função (dom). A popularização do título "Pastor" como chefe da igreja local vem da Reforma Protestante e do Pietismo.
Os reformadores rejeitaram o termo "sacerdote" (padre), pois criam no sacerdócio universal de todos os crentes. Inicialmente, adotaram termos como "ministro" ou "pregador". Mais tarde, o termo "Pastor" se fixou para designar aquele que cuida da congregação. Biblicamente, porém, o líder local é um Presbítero/Bispo que exerce o dom de Pastor-Mestre.
A Natureza do Apostolado e a Contemporaneidade dos Dons
Uma das dúvidas mais frequentes no cenário evangélico atual é: "Ainda existem apóstolos nos dias de hoje?". Para responder a essa questão com precisão bíblica, é necessário ir além do título e analisar a função. O termo grego apostolos significa simplesmente "aquele que é enviado". No entanto, o Novo Testamento apresenta o uso desse termo em três categorias distintas, o que é fundamental para definir a validade desse ministério na contemporaneidade.
1. Os Apóstolos do Cordeiro (Os Doze)
Este é um grupo singular e irrepetível na história da redenção. Refere-se aos doze discípulos escolhidos pessoalmente por Jesus durante o seu ministério terreno (com Matias substituindo Judas Iscariotes).
- Critérios: Ter convivido com Jesus durante seu ministério terreno e ter sido testemunha ocular da Sua ressurreição.
- Status Atual: Este grupo não existe mais. Sua função era fundacional. Em Apocalipse 21:14, vemos que os muros da Nova Jerusalém têm doze fundamentos com os nomes dos "doze apóstolos do Cordeiro". Ninguém hoje pode reivindicar pertencer a este grupo.
2. Os Apóstolos Testemunhas da Ressurreição
Existe um segundo grupo no Novo Testamento que, embora não tenha convivido com Jesus durante seu ministério terreno (antes da cruz), viu o Cristo ressurreto e recebeu comissão direta d'Ele. O maior exemplo é Paulo.
Em 1 Coríntios 15, Paulo lista as aparições de Jesus ressuscitado a Cefas, aos doze, a mais de quinhentos irmãos e a Tiago. Por fim, ele declara:
"E por derradeiro de todos me apareceu também a mim, como a um abortivo." (1 Coríntios 15:8)
Paulo se considera o "último" (abortivo) a ter esse encontro visual com o Cristo ressurreto que validava esse tipo específico de apostolado com autoridade canônica (para escrever Escritura). Portanto, não existem mais apóstolos nesta categoria, pois não há mais novas revelações doutrinárias a serem escritas nem testemunhas oculares da ressurreição física de Cristo no primeiro século.
3. Os Apóstolos Missionários (Enviados)
O terceiro sentido da palavra refere-se a missionários e implantadores de igrejas. Eram homens enviados pelas igrejas para expandir o evangelho, como Barnabé e outros citados nas epístolas.
Eles não possuíam a autoridade de escrever a Bíblia nem de estabelecer novos fundamentos doutrinários, mas exerciam o dom de desbravar novos campos, implantar comunidades de fé e estabelecer lideranças.
Conclusão sobre a Contemporaneidade: Se a pergunta for "Existem apóstolos com autoridade para escrever a Bíblia ou mudar doutrinas?", a resposta é não. A doutrina dos apóstolos já foi estabelecida e o fundamento já foi posto. Contudo, se a pergunta for "Existem pessoas com o dom ministerial de serem enviadas para abrir igrejas e realizar missões transculturais?", a resposta é sim. Nesse sentido funcional de "missionário", o dom permanece ativo.
A Permanência dos Demais Dons
Além do apostolado missionário, os demais dons de Efésios 4 continuam vitais para a saúde da igreja:
- Profetas: Não no sentido de adicionar novas escrituras, mas de trazer mensagens inspiradas de exortação, consolo e direção específica para a igreja ou indivíduos, sempre julgados pela Palavra escrita.
- Evangelistas: Aqueles com uma capacidade sobrenatural de comunicar o evangelho e levar pecadores ao arrependimento.
- Pastores-Mestres: Aqueles vocacionados para o cuidado contínuo e o ensino profundo das Escrituras.
Identidade x Título
Um ponto crucial para a maturidade cristã é entender que o exercício do dom não depende do título oficial. Muitas vezes, as burocracias denominacionais criam "escadinhas" de carreira (diácono -> presbítero -> pastor), mas os dons são distribuídos pelo Espírito Santo como Ele quer.
Uma pessoa pode ter o dom de evangelista e nunca ser ordenada a um cargo; outra pode ter o dom de ensino e atuar na Escola Bíblica sem ser pastor. O mais importante não é a nomenclatura que a instituição confere, mas o reconhecimento da própria vocação e o serviço fiel ao Reino de Deus com os talentos recebidos. O título é humano; o dom é divino.
Sistemas de Governo: Episcopal, Presbiteriano e Congregacional
A forma como uma igreja local se organiza e toma decisões define o seu sistema de governo. Embora a teologia seja o coração da igreja, a administração é o esqueleto que a mantém de pé. Atualmente, podemos classificar a governança eclesiástica em três modelos principais, cada um com suas características, vantagens e desafios.
1. Sistema Episcopal
Neste modelo, a autoridade reside na figura de um líder principal, geralmente denominado bispo, arcebispo ou presidente. É um sistema hierárquico e vertical ("top-down").
- Funcionamento: As decisões estratégicas, financeiras e doutrinárias são tomadas pelo topo da pirâmide e repassadas à base.
- Exemplos Históricos: A Igreja Católica Romana (com a figura do Papa), a Igreja Anglicana e a Igreja Ortodoxa.
- Exemplos Contemporâneos: Muitas igrejas pentecostais e neopentecostais adotam este modelo na prática, onde o "Pastor Presidente" ou "Apóstolo" detém a palavra final sobre os rumos da denominação, centralizando a gestão.
2. Sistema Presbiteriano (ou Representativo)
Este sistema funciona de maneira semelhante a uma república representativa. A autoridade não está em uma única pessoa, mas em um conselho de líderes, chamados presbíteros ou anciãos.
- Funcionamento: A igreja reconhece seus líderes (presbíteros), e esse grupo colegiado toma as decisões em conjunto. Não há um "dono" da igreja; há um conselho que delibera.
- Fundamentação: Este modelo busca refletir a pluralidade de liderança vista no Novo Testamento, onde as igrejas locais eram governadas por um corpo de presbíteros, e não por um líder solitário.
3. Sistema Congregacional
No modelo congregacional, a autoridade final reside na assembleia de membros. É o sistema mais democrático entre os três.
- Funcionamento: Embora existam pastores e líderes para a condução espiritual, as grandes decisões — como compra de imóveis, mudanças estatutárias ou eleição de oficiais — são submetidas ao voto da congregação.
- Exemplos: Igrejas Batistas tradicionais e Igrejas Congregacionais.
- Exemplo Bíblico: Um forte argumento para este modelo encontra-se em Atos 6, quando os apóstolos convocam a multidão dos discípulos para escolherem os sete diáconos. A liderança propôs, mas a congregação escolheu.
Qual é o Modelo Bíblico Ideal?
Ao analisarmos o Novo Testamento, é difícil apontar um único sistema rígido que deva ser aplicado universalmente em todos os tempos. Vemos elementos de todos os modelos nas Escrituras:
- Traços Episcopais: A autoridade que apóstolos como Paulo exerciam sobre as igrejas que plantavam, dando diretrizes claras e, por vezes, unilaterais (como em Tito 1:5).
- Traços Presbiterianos: A prática mais comum no livro de Atos parece ser a liderança plural. As decisões eram tomadas pelos "apóstolos e anciãos" (Atos 15), sugerindo que o governo por conselho (presbitério) era a norma para a saúde da igreja local.
- Traços Congregacionais: A participação ativa da comunidade na escolha de representantes e no envio de missionários.
A conclusão mais equilibrada sugere que o modelo bíblico tende à pluralidade de liderança (evitando a autocracia de um só homem) com a participação do corpo (evitando o clericalismo). Independentemente do sistema adotado hoje, o objetivo final deve ser sempre servir ao Corpo de Cristo com ordem, transparência e fidelidade às Escrituras.
Iury Rangel. Sistemática: Eclesiologia - Aula 2 (15/05/25). https://www.youtube.com/watch?v=S_4qDqUz31c&list=PLPzTWfHlWljo-QrJm2iz6inGOE7C-YYPD&index=3