O Monte e a Oração: A Base da Escolha Divina

O texto de Lucas, no capítulo 6, apresenta um momento crucial no ministério de Jesus: a transição de uma atuação solitária para o estabelecimento de um grupo que caminharia com Ele e daria continuidade à Sua obra. Antes de nomear seus apóstolos, o evangelista relata um movimento preparatório que carrega um significado profundo para a compreensão da vida espiritual.

"Naqueles dias, retirou-se para o monte a fim de orar; e passou a noite orando a Deus." (Lucas 6:12)

A imagem de Jesus subindo ao monte e permanecendo em vigília durante toda a noite nos confronta com uma realidade desconcertante. Se o próprio Filho de Deus, que carregava em si a plenitude da divindade, sentiu a necessidade imperativa de gastar uma madrugada inteira em diálogo com o Pai antes de tomar uma decisão, o que isso diz sobre a nossa autossuficiência?

Frequentemente, na sociedade contemporânea, somos tentados a pular esta etapa. Vivemos sob a tirania da urgência e da produtividade, onde o tempo gasto em silêncio e oração é visto como improdutivo. Preferimos métodos pragmáticos: análises de desempenho, avaliações psicológicas, estudos de perfil e estratégias rápidas de resolução de problemas. Acreditamos que podemos "dissecar" o ser humano e tomar decisões baseadas apenas em nossa própria inteligência e intuição. No entanto, o modelo apresentado por Cristo inverte essa lógica. A ação pública e assertiva nasce, invariavelmente, de uma intimidade privada e prolongada com Deus.

Há uma crítica implícita ao nosso modo de vida moderno quando observamos este texto. Alegamos, com frequência, que a vida é demasiadamente corrida, que os horários são apertados e que o cansaço nos impede de manter uma vida devocional constante. Contudo, essa falta de tempo é, muitas vezes, uma questão de prioridade e de crença.

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Encontramos horas para o entretenimento, para as redes sociais, para maratonar séries ou assistir a eventos esportivos. O tempo existe para aquilo que consideramos interessante e vital. A ausência de tempo para a oração e para a leitura das Escrituras denota, na verdade, que não cremos verdadeiramente na eficácia e na necessidade desse relacionamento. Se a comunhão com o divino fosse, de fato, o sustento de nossa existência, ela ocuparia o centro de nossa agenda, e não as margens.

A subida ao monte não deve ser interpretada como uma fuga da realidade ou um escapismo religioso. Não se trata de viver em uma bolha de "espiritualidade" desconectada do mundo real, nem de buscar experiências místicas como um fim em si mesmas. O movimento de Jesus nos ensina que o "monte" (o lugar de oração e comunhão) é o pré-requisito para a planície (o lugar da vida prática).

As decisões que tomamos, a maneira como reagimos emocionalmente às pessoas, a forma como conduzimos nossos relacionamentos e negócios; tudo isso deve ser um desdobramento do tempo que passamos ouvindo a Deus. Quando cortamos esse processo, nossa vida prática torna-se árida, guiada apenas por impulsos humanos ou sistemas de pensamento seculares.

Portanto, o ato de escolher os doze discípulos não foi um evento administrativo isolado; foi o transbordar de uma noite de oração. Isso estabelece um princípio fundamental: a verdadeira sabedoria e a direção para a vida não são encontradas na agitação do fazer, mas na quietude do estar com Deus. Antes de qualquer grande movimento externo, deve haver um profundo movimento interno de rendição e busca.


A Casa da Rocha. #14 - A escolha dos Discípulos - Zé Bruno - Meu Caro Amigo. https://www.youtube.com/live/WIhLAOmV-Yc?si=YvBZUGDJRLyaHrPx&list=PLln4KGoeU_UlYAKpYT6dSHyl8oNMkDcO9&index=12

Avatar de diego
há 2 dias
Matéria: Bíblia
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