1. O Conceito Ampliado de "Filho" e o Chamado à Influência Incondicional

A ideia de paternidade e maternidade deve ir muito além do vínculo biológico. O conceito fundamental a ser absorvido é que "filho" não é apenas aquele que "vem da gente," mas também aquele que "passa pela gente." Isso significa que, mesmo que você ainda não tenha gerado um filho biológico, você já tem pessoas em sua vida que são consideradas seus "filhos" no sentido de influência e responsabilidade.

Essa visão ampliada exige que cada pessoa participe ativamente da educação e do treinamento daqueles que chegam até ela, seja no âmbito familiar ou profissional. Por exemplo, os clientes para um psicólogo, os alunos para um professor ou mesmo o passageiro que contratou um taxista são, em essência, "filhos" que passam por nós, oferecendo uma oportunidade de influência.

Se negligenciarmos essa responsabilidade, acabamos desprezando pessoas em detrimento de outras. A vocação central e o chamado maior para qualquer pessoa é, em primeiro lugar, amar as pessoas de forma genuína e incondicional. Perder a oportunidade de influenciar positivamente na vida de quem passa por nós é falhar nesse propósito maior.


2. O Desafio da Parentalidade: A Falta de Preparo e a Referência Paterna

Apesar da importância fundamental de educar e treinar os "filhos" que geramos, a realidade para a maioria dos pais e mães é a ausência total de preparo. Ninguém recebe um treinamento formal ou uma cartilha de instruções ao assumir a função parental.

A única referência de "treinamento" que possuímos é a que foi fornecida pelos nossos próprios pais. Isso levanta a questão crucial: a referência que tivemos foi a melhor referência? Na maioria dos casos, a resposta sincera é não. Contudo, é vital reconhecer que, embora não tenha sido a melhor, foi o melhor que eles puderam entregar no contexto e com as ferramentas que possuíam.

A reflexão sincera sobre se "seu pai foi um bom pai?" ou "sua mãe foi uma boa mãe?" é um exercício que nos leva invariavelmente a buscar informações em um período específico de nossas vidas: a infância. A memória da infância é o único parâmetro que temos para justificar as qualidades ou deficiências de nossos pais, pois é nesse período que as marcas mais profundas são feitas.


3. A Marca Inapagável da Infância: Por Que as Lembranças de Pai e Mãe nos Definem

Ao refletir sobre a qualidade da criação que recebemos, automaticamente recorremos à infância. Isso acontece porque a infância é a única fase da vida do seu filho que você tem para marcá-lo. Caso essa janela crucial seja perdida, torna-se muito mais difícil (embora não impossível) reverter as marcas e influências.

Se o pai ou a mãe não estabelecem uma marca significativa e positiva durante a infância, o filho, na vida adulta, pode olhar para o genitor como "uma pessoa", ou "um cara legal", mas não como o pai ou a mãe que ele gostaria de ter tido.

É fundamental entender que a falha em marcar positivamente raramente é intencional. O pai não agiu por mal, mas a falta de preparo e orientação pode ter causado dor. O palestrante utiliza a analogia de "pisar no pé sem querer":

"Eu piso no seu pé, sem querer, e tá doendo o seu pé. Eu digo: me desculpa, foi sem querer, não foi por mal. Parou de doer? Não parou."

O pedido de desculpas ou a alegação de boa intenção não anulam a dor causada. Alguém pode ter provocado um mal profundo na vida do filho simplesmente por falta de orientação e de ferramentas adequadas. O objetivo deste treinamento, portanto, é fornecer as ferramentas e as habilidades necessárias para que os pais (ou influenciadores) possam administrar e educar de forma mais eficaz, evitando as dores não intencionais.


4. As Três Prioridades da Vida e a Importância da Crença Paternal

Para aqueles que buscam uma vida alinhada com princípios espirituais, existem três prioridades fundamentais que regem a existência:

  1. Deus: O relacionamento vertical e a fé pessoal.
  2. Vocação: O chamado e o propósito de vida.
  3. Casamento: O relacionamento conjugal e familiar.

Ainda que Deus seja a primeira prioridade, é estabelecida uma ordem de crença no desenvolvimento do filho: antes de o filho acreditar em Deus, ele precisa acreditar em você (o pai ou a mãe). A autoridade e a credibilidade dos pais servem como o primeiro ponto de contato com a autoridade divina.

"Se o seu filho não acredita em você, ele não acredita no Deus que você acredita."

A manifestação dessa realidade pode ser observada em experiências pessoais, como a trajetória com o filho Davi. Inicialmente, durante os seus primeiros cinco anos, o palestrante agia como um pai que replicava o modelo que ele próprio havia recebido, resultando em um comportamento que hoje ele identifica como falho. Após mudar para uma "nova versão" de paternidade (a partir dos seis anos de Davi), ele percebeu que as marcas da primeira fase, como certa insegurança e a manifestação de déficit de atenção com hiperatividade, são resquícios daquele período anterior. Já a filha Sofia, que conheceu o pai em sua "nova versão" desde o nascimento, apresenta características diferentes.

É importante frisar que a dificuldade de lidar com um filho com TDAH, por exemplo, muitas vezes faz a tarefa parecer uma "manifestação demoníaca", mas na verdade, é difícil e exige habilidades que os pais não foram preparados para ter. Se algo é difícil, é porque demanda capacidades que não possuímos, e ninguém nos ensinou como adquiri-las. O que os pais fazem é simplesmente reproduzir o que aprenderam.


5. A Síndrome da Orfandade e Suas Consequências na Vida Adulta

Embora o foco da discussão tenha se concentrado na infância e na parentalidade, é crucial notar que o palestrante é especialista em adulto, não em criança. A abordagem é feita a partir da dor presente, percebendo que as dificuldades e comportamentos observados nos adultos têm suas raízes plantadas na infância e nas interações com os pais. O objetivo é conectar o que o adulto sente e faz hoje (o porquê) com a sua história de vida.

O tema central é a Síndrome da Orfandade. O termo é usado em um sentido amplo e não se restringe à ausência física dos pais. A "orfandade" pode ser resultado de ter um pai vivo, mas que é ausente, bruto, incoerente, insensível ou com um coração de pedra (aqui, o termo "pai" deve ser entendido como pais, incluindo a mãe).

O treinamento se concentra nas consequências dessa orfandade emocional ou física na vida adulta do indivíduo. Em vez de focar no como a pessoa se tornou órfã (o trauma de origem), a ênfase é em o que acontece com o adulto hoje que foi filho de pais ausentes, despreparados ou emocionalmente indisponíveis. A solução proposta, portanto, começa no presente, na vida adulta, para tratar as feridas do passado.


6. Gerenciamento de Problemas e a Elegância da Discrição Familiar

É natural que os pais se sintam sobrecarregados e imperfeitos. O palestrante reconhece não ser um "santo" e usa o humor para abordar a discrepância entre a realidade familiar e a imagem pública: as fotos e vídeos de família perfeita nas redes sociais são resultado de "milhões de tentativas" e não refletem o dia a dia.

Um exemplo prático e humorístico dessa gestão de imagem é a "Analogia da Família Perfeita no Elevador": um casal pode estar discutindo intensamente (sobre atrasos ou desorganização) enquanto se dirige ao elevador. No momento em que o elevador para e a porta se abre, há uma transformação instantânea, um código: "Modo Família Perfeito" é ativado, e a família sorri e se comporta de forma impecável.

Este comportamento não deve ser visto como falsidade, mas sim como elegância. O princípio orientador é:

"Ninguém tem que saber dos seus problemas, a não ser que sejam pessoas que vão te ajudar a resolver os seus problemas."

Compartilhar a dor familiar, na verdade, contamina o ambiente e as pessoas ao redor. A sugestão de comportamento é agir de acordo com o que se deseja sentir: se você começa a se comportar como deveria se sentir, uma hora você realmente começa a sentir essa nova realidade.

Este princípio de discrição se estende ao relacionamento conjugal: os problemas da "casa nova" (o casamento e a nova família) não devem ser levados para a "casa antiga" (a família de origem, como os pais ou a mãe). A sogra ou a mãe do cônjuge não precisa saber dos detalhes e dificuldades do casal, garantindo assim a autonomia e a integridade da nova unidade familiar.

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há 7 horas
Matéria: Desenvolvimento Pessoal
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