Imagem do artigo 1

O Paradoxo do Conhecimento: O Finito Diante do Infinito

O estudo sobre o ser e as obras de Deus é, sem dúvida, o empreendimento mais elevado ao qual a mente humana pode se dedicar. Como observou Charles Spurgeon em sua juventude, a investigação sobre a divindade é um tema que, ao mesmo tempo que humilha a mente humana devido à sua vastidão, também a expande e consola de maneira incomparável. No entanto, ao nos debruçarmos sobre a tarefa de entender quem Deus é, deparamo-nos imediatamente com uma barreira fundamental: a limitação humana diante da infinitude divina.

A teologia reformada, ao longo dos séculos, tem utilizado uma expressão em latim para descrever a relação entre o intelecto humano e a essência divina: finitum non capax infiniti. Esta máxima traduz-se como "o finito não pode compreender o infinito". Sendo Deus um ser infinito e eterno, e os seres humanos criaturas finitas e limitadas, é impossível para a mente humana abarcar a totalidade de Deus. Tentar descrever o Criador é, em última análise, tentar descrever o indescritível e compreender o incompreensível.

As Escrituras Sagradas atestam essa disparidade ontológica. O livro de Jó questiona a capacidade humana de sondar os mistérios divinos:

"Poderás descobrir as profundezas de Deus? Poderás descobrir a perfeição do Todo-Poderoso? Como as alturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás fazer? Mais profunda é ela do que o Seol; que poderás saber? A sua medida é mais longa do que a terra e mais larga do que o mar." (Jó 11:7-9)

Da mesma forma, o profeta Isaías registra a distinção absoluta entre os pensamentos do Criador e os da criatura:

"Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos." (Is. 55:8-9)

Apesar dessa impossibilidade de compreensão exaustiva, o Cristianismo não propõe um Deus agnóstico ou inalcançável. Há um equilíbrio vital na doutrina do conhecimento de Deus: Ele é, simultaneamente, incompreensível em Sua totalidade, mas verdadeiramente cognoscível através de Sua revelação.

O próprio Jesus Cristo afirmou que a vida eterna consiste em conhecer o único Deus verdadeiro (Jo. 17:3). Embora "ninguém jamais tenha visto a Deus", o Filho unigênito O revelou (Jo. 1:18). Portanto, segundo teólogos como Louis Berkhof, embora seja impossível ao homem ter um conhecimento completo e perfeito de Deus (o que equivaleria a compreendê-Lo integralmente), é perfeitamente possível obter um conhecimento adequado e suficiente para a realização do propósito divino e para a salvação.

Esse conhecimento só é viável porque Deus tomou a iniciativa de se revelar. João Calvino, reformador do século XVI, utilizava uma analogia perspicaz para explicar esse fenômeno: a "linguagem de acomodação". Assim como uma babá ou uma mãe precisa adaptar sua linguagem, balbuciando para se comunicar com um bebê, Deus, em Sua infinita sabedoria, adapta Sua revelação à nossa capacidade limitada.

Isso não significa que o que a Bíblia diz sobre Deus seja inexato ou incorreto. Pelo contrário, a revelação é verdadeira, mas é expressa em termos que mentes finitas podem processar. A linguagem humana, por sua própria natureza, é limitada para descrever o infinito, mas é o meio escolhido por Deus para se fazer conhecido, amado e adorado. Assim, o estudo da teologia torna-se a base para todas as outras doutrinas, pois a soteriologia, a eclesiologia e a escatologia são, em essência, explicações de como este Deus infinito age em relação à Sua criação.


Definindo o Indefinível: O Ser de Deus e a Confissão de Westminster

Diante da complexidade de articular quem Deus é, a teologia histórica buscou sintetizar o ensino bíblico em definições precisas. Nesse contexto, a Confissão de Fé de Westminster destaca-se como um dos documentos mais importantes e acurados da tradição reformada. Elaborada durante a Assembleia de Westminster, que reuniu mais de cem teólogos e pastores entre os anos de 1643 e 1648, essa confissão oferece uma descrição da natureza divina que muitos consideram insuperável fora das Escrituras.

Há um registro histórico notável sobre como essa definição foi alcançada. As atas da Assembleia relatam que, ao chegarem à questão "Quem é Deus?", os deputados debateram por horas a fio sem conseguir chegar a um consenso satisfatório. Diante do impasse, reconhecendo a incapacidade humana de definir o Criador apenas pelo intelecto, decidiram interromper a sessão para orar.

Durante esse momento de intercessão, um dos pastores iniciou sua oração descrevendo a Deus com tamanha beleza, exatidão e reverência que os demais começaram a registrar suas palavras. Após ajustes teológicos finos, essa oração tornou-se a base para a definição dogmática que temos hoje no Capítulo 2 da Confissão.

A descrição resultante é rica e abrange a plenitude dos atributos divinos:

"Há um só Deus vivo e verdadeiro, o qual é infinito em seu ser e perfeições. Ele é um espírito puríssimo, invisível, sem corpo, membros ou paixões; é imutável, imenso, eterno, incompreensível, onipotente, onisciente, santíssimo, completamente livre e absoluto, fazendo tudo para a sua própria glória e segundo o conselho da sua própria vontade, que é reta e imutável. É cheio de amor, é gracioso, misericordioso, longânimo, muito bondoso e verdadeiro, galardoador dos que o buscam, e, contudo, justíssimo e terrível em seus juízos, pois odeia todo o pecado e de modo algum terá por inocente o culpado." (Confissão de Fé de Westminster, II.1)

Posteriormente, para fins didáticos e catequéticos, essa definição densa foi condensada no Breve Catecismo de Westminster. Esta versão resume a essência divina de uma forma que facilita a memorização e a compreensão dos pilares do caráter de Deus. A resposta à pergunta "O que é Deus?" é apresentada da seguinte maneira:

"Deus é Espírito, infinito, eterno e imutável em seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade."

Esta formulação concisa serve como um roteiro para o estudo da teologia própria (o estudo de Deus Pai). Ela estabelece que Deus não apenas possui essas características, mas Ele é a própria definição e fonte delas. Ele é infinito em Seu ser, eterno em Sua sabedoria e imutável em Sua justiça. Essas definições confessionais funcionam como alicerces para que, mesmo dentro das limitações da linguagem humana, a igreja possa confessar verdades robustas sobre o seu Senhor.


A Linguagem da Acomodação: Antropomorfismos, Antropopatismos e Metáforas

Uma vez estabelecido que Deus é infinito e Espírito puro, surge a inevitável questão: como as Escrituras podem descrevê-Lo com características físicas ou emocionais humanas? A resposta reside no conceito de "linguagem de acomodação". A Bíblia utiliza formas e figuras da experiência humana para comunicar verdades sobre um Deus que transcende essa mesma experiência. Existem três categorias principais pelas quais essa linguagem se manifesta: antropomorfismos, antropopatismos e metáforas.

Antropomorfismos

O termo deriva do grego anthropos (homem) e morphe (forma). Refere-se à atribuição de características ou formas físicas humanas a Deus. Frequentemente, o texto bíblico menciona os "olhos" do Senhor que percorrem a terra, o Seu "braço" que não está encolhido, a Sua "mão" poderosa, ou descreve-O assentado em um trono com seus "pés" sobre a terra.

Teologicamente, sabemos que Deus é Espírito (João 4:24) e, portanto, não possui corpo, partes ou membros físicos. Ele não tem olhos biológicos nem braços musculares. No entanto, essas descrições são vitais para a nossa compreensão:

  • Olhos de Deus: Representam Sua onisciência e Sua capacidade de ver e sondar todas as coisas.
  • Braço ou Mão de Deus: Simbolizam Seu poder, força e a Sua capacidade de alcançar e intervir na história humana.
  • Ouvidos de Deus: Indicam que Ele é um ser pessoal que atende às orações de Seu povo.

Sem essa linguagem analógica, a mente humana teria dificuldade em processar conceitos abstratos como onipotência ou onipresença.

Antropopatismos

Semelhante ao conceito anterior, o antropopatismo vem de anthropos (homem) e pathos (paixão ou sentimento). Trata-se da atribuição de emoções e sentimentos humanos a Deus. As Escrituras afirmam que Deus se alegra, se entristece, se ira e até mesmo que se "arrepende".

Este último ponto gera frequentes dúvidas. Como pode um Deus perfeito e imutável arrepender-se? A Bíblia afirma categoricamente que "Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa" (Nm. 23:19). Contudo, em narrativas como a do Dilúvio, lê-se que Deus se arrependeu de ter criado o homem.

O antropopatismo resolve essa aparente tensão. O "arrependimento" divino não implica erro, falha ou mudança de essência, como ocorre com os seres humanos. Em vez disso, descreve uma mudança na postura ou no modo de agir de Deus em resposta às ações humanas, descrita sob a ótica de um observador humano. É a linguagem limitada tentando expressar a relação dinâmica entre um Deus Santo e criaturas pecadoras.

Metáforas e Analogias

Além de formas e sentimentos, a Bíblia é rica em metáforas que utilizam elementos do cotidiano para ilustrar quem Deus é. Ele é descrito como:

  • Pastor: (Salmo 23) Que cuida, guia e protege as ovelhas.
  • Guerreiro: (Êxodo 15:3) Que luta pelo Seu povo.
  • Escudo e Fortaleza: (Salmo 18:2) Que oferece proteção e segurança.
  • Galinha: (Mateus 23:37) O próprio Jesus usa a imagem de uma galinha que ajunta os pintinhos sob as asas para ilustrar Seu desejo de proteger e acolher os filhos de Jerusalém.

É fundamental compreender que Deus não é literalmente um escudo de metal ou um pastor com cajado. Essas são imagens, escolhidas soberanamente por Ele, para revelar aspectos de Seu caráter — cuidado, proteção, força e amor — de uma maneira que ressoe com a realidade humana.

Portanto, embora a linguagem humana seja tecnicamente "inadequada" para conter a plenitude de Deus, ela não é falsa. É a ferramenta divinamente inspirada e suficiente para que possamos conhecê-Lo verdadeiramente, ainda que não exaustivamente.


Descrições Essenciais da Natureza Divina: Espírito, Luz, Amor e Santidade

Além da linguagem de acomodação, a Bíblia utiliza descrições diretas — afirmações ontológicas — para revelar a essência de Deus. Estas declarações, frequentemente expressas na fórmula "Deus é...", funcionam como janelas para a Sua natureza, permitindo-nos vislumbrar aspectos fundamentais do Seu ser. Abaixo, exploramos quatro das principais descrições bíblicas.

1. Deus é Espírito

Em seu diálogo com a mulher samaritana, Jesus estabelece uma das definições mais cruciais da teologia:

"Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade." (João 4:24)

Afirmar que Deus é Espírito carrega profundas implicações teológicas:

  • Imaterialidade e Infinitude: Deus não possui substância material. Diferente das criaturas e dos objetos, Ele não é composto de matéria e, portanto, não está sujeito às limitações físicas. Isso aponta diretamente para a Sua infinitude; Ele não está confinado ao espaço ou ao tempo.
  • Simplicidade Divina: Na teologia, a "simplicidade" não significa facilidade ou falta de complexidade, mas sim que Deus não é composto de partes. Ele é indivisível. Não há em Deus uma divisão entre Seus atributos e Sua essência; Ele é plenamente presente em cada um de Seus atributos.
  • Invisibilidade: Sendo Espírito, Deus é essencialmente invisível aos olhos humanos, habitando em "luz inacessível" (1 Tm. 6:16).
  • Pessoalidade: Um espírito, no sentido bíblico, é um ser dotado de vontade, inteligência e propósito. Deus não é uma força cósmica impessoal ou uma energia abstrata; Ele é um Ser Pessoal com quem nos relacionamos.

2. Deus é Luz

O apóstolo João, em sua primeira epístola, declara:

"Esta é a mensagem que dele ouvimos e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma." (1 João 1:5)

A metáfora da luz é um contraponto direto às trevas e à escuridão. Teologicamente, descrever Deus como Luz enfatiza Sua pureza absoluta, Sua glória e Sua perfeição moral. Não existe nEle qualquer resquício de imperfeição, erro, maldade ou mácula. Ele é a fonte de toda verdade e clareza moral.

3. Deus é Amor

Talvez a descrição mais citada e, por vezes, mal compreendida seja a encontrada em 1 João 4:8: "Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor".

Como observa o teólogo John Frame, o amor divino é a base para compreendermos verdadeiramente o que Deus é. No entanto, é vital notar que, embora o amor permeie todas as ações de Deus, ele não anula Seus outros atributos. Na teologia reformada, entende-se que todos os atributos de Deus são harmoniosos: Sua justiça é amorosa, e Seu amor é justo. O amor é o motor da redenção e a maneira como Deus escolheu se relacionar com a humanidade caída, mas não deve ser isolado de Sua santidade ou justiça.

4. Deus é Santo

De todas as descrições, a santidade ocupa um lugar singular nas Escrituras. É o único atributo de Deus elevado ao grau superlativo através da repetição tríplice. Tanto em Isaías 6:3 quanto em Apocalipse 4:8, os seres celestiais proclamam incessantemente:

Publicidade

"Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória."

Na cultura hebraica, a repetição é uma forma de ênfase, e a tripla repetição denota a ênfase máxima. Dizer que Deus é "Santo, Santo, Santo" (o Trisagion) é afirmar que Ele é "Santíssimo", o ser mais puro e perfeito que existe. A santidade divina abrange dois conceitos principais:

  1. Transcendência e Separação: "Santo" significa literalmente "separado". Deus é totalmente distinto da Sua criação. Ele está acima e além de tudo o que criou, exaltado em majestade. Nada no universo se compara a Ele.
  2. Pureza Moral: Refere-se à Sua absoluta perfeição ética e retidão.

A santidade funciona como o atributo qualificador de todos os outros: Seu amor é santo, Sua ira é santa, Seu poder é santo. É a glória intrínseca do próprio Deus.


A Revelação do Caráter de Deus Através de Seus Nomes no Antigo Testamento

No contexto bíblico, especialmente no Antigo Testamento, um nome é muito mais do que uma simples etiqueta de identificação. Um nome carrega consigo a essência, a identidade e o caráter de quem o porta. Como a teologia reformada observa, diante da impossibilidade de resumir o ser simples e incompreensível de Deus em uma única definição, o Senhor acomoda-se à nossa compreensão revelando-se através de diversos nomes. Cada um deles ilumina uma faceta específica de Sua personalidade e de Suas obras.

Estudar os nomes de Deus é, portanto, estudar Seus atributos e Sua relação com a criação. Abaixo, destacamos alguns dos principais nomes pelos quais Deus se deu a conhecer aos patriarcas e profetas:

1. El, Eloah e Elohim

Estas são as designações mais básicas para a divindade.

  • El e Eloah: Derivados de raízes que significam "força" ou "poder", estes nomes descrevem Deus como o Ser Forte e Poderoso, digno de toda reverência.
  • Elohim: Este é o primeiro nome a aparecer nas Escrituras ("No princípio, criou Elohim os céus e a terra" - Gn 1:1). Usado mais de 2.500 vezes no Antigo Testamento, é um plural majestático que enfatiza a plenitude do poder e a majestade de Deus como o Criador supremo. Ao usar este nome em Gênesis 1, a Bíblia estabelece Deus como aquele que detém poder suficiente para trazer o universo à existência e ordená-lo com perfeição.

2. El Elyon (O Deus Altíssimo)

Este nome aparece de forma proeminente no encontro entre Abraão e Melquisedeque (Gn. 14:18-20). El Elyon significa "Deus Altíssimo". Teologicamente, este título aponta para a supremacia absoluta de Deus. Ele está acima de tudo e de todos; não há ninguém que se equipare a Ele em dignidade, posição ou poder. Ele é o transcendente, exaltado acima de toda a criação e de todos os reinos humanos.

3. Adonai (O Senhor)

Frequentemente traduzido como "Senhor", o nome Adonai transmite a ideia de governança, soberania e senhorio. Indica uma relação de mestre e servo. Um exemplo clássico do uso deste nome encontra-se na visão do profeta Isaías:

"No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor [Adonai] assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo." (Isaías 6:1)

Nesta passagem, Adonai descreve Deus como o Soberano que está no trono, governando ativamente sobre toda a existência e controlando a história e o universo.

4. El Shaddai (O Deus Todo-Poderoso)

Este nome é central na revelação de Deus aos patriarcas, aparecendo de forma marcante quando Deus confirma Sua aliança com Abraão:

"Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o Senhor e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso [El Shaddai]; anda na minha presença e sê perfeito." (Gênesis 17:1)

Embora traduzido comumente como "Todo-Poderoso", o significado de El Shaddai abrange a ideia de "Todo-Suficiente". Ele não é apenas o Deus que possui todo o poder, mas é Aquele que é suficiente em Si mesmo para cumprir todas as Suas promessas e suprir todas as necessidades do Seu povo. No contexto de Abraão, Deus revelou-se como aquele que, sobrenaturalmente, providenciaria descendência e guiaria a história daquela família, demonstrando que Sua provisão e poder são inesgotáveis.


Yahweh: O Grande "Eu Sou" e a Aliança com o Povo

Entre todos os nomes divinos revelados nas Escrituras, um se destaca como o nome pactual e pessoal de Deus: Yahweh (ou Javé). Frequentemente traduzido em nossas Bíblias como "SENHOR" (com todas as letras maiúsculas), este é o nome sagrado associado à redenção e à auto-revelação mais profunda de Deus ao Seu povo.

A origem deste nome remonta ao verbo hebraico hayah ("ser" ou "tornar-se"). A sua revelação central ocorre em Êxodo 3, no episódio da sarça ardente, um momento decisivo na história da salvação. Quando Moisés pergunta a Deus qual nome deveria apresentar aos israelitas, a resposta divina é enigmática e profunda:

"Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós." (Êxodo 3:14)

A Simbologia da Sarça Ardente

A teologia reformada vê na imagem da sarça ardente — um arbusto que ardia em chamas, mas não se consumia — uma ilustração perfeita do significado do nome Yahweh. O fogo natural necessita de combustível para continuar existindo; ele consome a madeira. No entanto, o fogo da presença divina na sarça não dependia do arbusto para arder.

Esta imagem visual, combinada com o nome "Eu Sou", comunica atributos incomunicáveis de Deus:

  1. Autoexistência (Asseidade): Assim como o fogo não precisava da sarça, Deus não precisa de nada fora de Si mesmo para existir. Ele não foi criado e não depende da criação para Sua continuidade.
  2. Autossuficiência: Deus é completo em Si mesmo. Ele não carece de glória, amor ou recursos humanos.
  3. Imutabilidade: O Deus que diz "Eu Sou" é o Eterno Presente. Ele não muda, não evolui e não diminui.
  4. Pessoalidade: "Eu Sou" é uma declaração de uma Pessoa, não de uma força impessoal.

O Deus da Aliança e da Misericórdia

É crucial notar que Deus revela este nome num contexto de libertação. Ele diz a Moisés que é o "Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó". Portanto, Yahweh não é apenas o Deus metafísico e distante; Ele é o Deus fiel à Sua aliança. Ele desce para libertar Seu povo da escravidão porque se lembra de Sua promessa.

Posteriormente, em Êxodo 34:6-7, Deus expande o significado de Seu nome ao passar diante de Moisés e proclamar Sua identidade moral:

"SENHOR, SENHOR [Yahweh], Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado..."

Aqui, o nome Yahweh torna-se sinônimo de fidelidade pactual e amor redentor, equilibrado perfeitamente com Sua justiça.

Yahweh Sabaoth: O Senhor dos Exércitos

Uma variação poderosa deste nome é Yahweh Sabaoth, ou "Senhor dos Exércitos". Este título enfatiza a soberania de Deus sobre todas as forças existentes. O termo "exércitos" aqui possui uma tríplice aplicação:

  1. Exércitos Humanos: Deus governa sobre as nações e as guerras dos homens; Ele levanta e abate reis.
  2. Exércitos Espirituais: Ele comanda as hostes celestiais (anjos) e detém autoridade suprema sobre os demônios. Mesmo as forças do mal estão sob Sua "coleira" soberana, agindo apenas dentro dos limites permitidos por Ele.
  3. Exércitos Estelares: O universo, com suas galáxias e estrelas, é descrito como um exército que obedece ao seu Criador.

Assim, o "Eu Sou" é também o Comandante Supremo de toda a realidade, garantindo que Seus propósitos jamais sejam frustrados.


A Plenitude no Novo Testamento: Jesus como Senhor, o Pai e o Pantocrator

Enquanto o Antigo Testamento revela Deus através de uma multiplicidade de nomes que destacam facetas de Seu caráter, o Novo Testamento apresenta uma mudança de foco. A preocupação central não é mais apresentar novos títulos, mas mostrar que a plena revelação de Deus encarnou-se na pessoa de Jesus Cristo. Ele é a "expressão exata do ser de Deus" (Hb. 1:3), e nEle, os nomes do Antigo Testamento encontram seu cumprimento e significado definitivo.

Kyrios: Jesus é Yahweh

Uma das conexões teológicas mais profundas entre os dois testamentos reside no uso da palavra grega Kyrios ("Senhor"). Quando o Antigo Testamento foi traduzido do hebraico para o grego (na versão conhecida como Septuaginta), o sagrado nome Yahweh foi traduzido predominantemente por Kyrios.

Portanto, quando os autores do Novo Testamento aplicam o título Kyrios a Jesus, eles estão fazendo uma afirmação de divindade inequívoca. Um exemplo supremo encontra-se no hino cristológico de Filipenses 2:9-11:

"Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho [...] e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor [Kyrios], para glória de Deus Pai."

Ao declarar que Jesus é o Senhor, o Novo Testamento está identificando-O com o Yahweh do Antigo Testamento. Jesus é a manifestação visível, encarnada e pessoal do grande "Eu Sou".

Pater: A Intimidade do "Aba"

Outra marca distintiva da revelação neotestamentária é o uso do nome Pater (Pai). Embora Deus fosse chamado de Pai no Antigo Testamento, o sentido era predominantemente coletivo — Ele era o Pai da nação de Israel.

Com a vinda de Jesus, essa revelação torna-se radicalmente pessoal e íntima. Jesus ensina seus discípulos a orarem dizendo "Pai Nosso" e utiliza a expressão aramaica Aba, que denota uma proximidade familiar e afetuosa, semelhante a "papai". No Novo Testamento, Deus não é apenas o Criador distante ou o Pai da nação, mas o Pai individual de cada crente, adotado mediante a fé em Cristo. Esta mudança reflete uma nova profundidade de relacionamento, marcada pelo amor e pela confiança filial.

Pantokrator: O Verdadeiro Todo-Poderoso

Por fim, o livro de Apocalipse resgata um título de majestade suprema: Pantokrator (Todo-Poderoso). Este termo aparece frequentemente no último livro da Bíblia (por exemplo, em Apocalipse 1:8 e 4:8) e possui um contexto histórico fascinante.

Na época em que o Apocalipse foi escrito, os imperadores romanos frequentemente reivindicavam para si títulos divinos, apresentando-se como os governantes supremos do mundo. Ao chamar Deus de Pantokrator, o texto bíblico oferece uma resposta subversiva e consoladora à igreja perseguida: o verdadeiro governante do universo não é César, nem qualquer poder político terreno, mas o Senhor Deus.

"Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso [Pantokrator]." (Apocalipse 1:8)

Este título assegura aos cristãos que, independentemente das tribulações ou perseguições, Deus permanece no trono, soberano sobre a história, sobre os impérios humanos e sobre as forças espirituais, conduzindo todas as coisas para o Seu propósito final de glória.


Sexta Igreja. O CONHECIMENTO DE DEUS | AULA 08 | CURSO DE TEOLOGIA REFORMADA | PR DIEGO RUY. Disponível em: https://youtu.be/gM9XCxXNI-o?si=ql-_cR6EJYevrpOQ

Avatar de diego
há 9 horas
Matéria: Bíblia
Artigo

0 Comentários

Nenhum comentário. Seja o primeiro a comentar!

Você precisa entrar para comentar.
Pergunte à IA